Nas margens do Rio Acará, localizado na região nordeste paraense, o manejo do açaí de várzea é uma das principais atividades da agricultura familiar da região. Mas é a expansão dessa cultura para a terra firme que vem despertando o interesse dos agricultores, que devem ficar atentos.
Um deles é Benedito da Silva, que além de cultivar a mandioca e manejar o açaí nativo, vai ampliar a produção trazendo a palmeira para dentro da propriedade. “Eu ainda não planto o açaí em terra firme, mas vou iniciar ainda este ano” afirmou.
O agricultor foi um dos participantes do curso “Manejo da cultura do açaí em terra firme”, realizado pela Embrapa Amazônia Oriental, no dia 31/05, no município do Acará.
Cerca de 80% da população do Acará vive na zona rural, de acordo com a engenheira agrônoma Helenice César, coordenadora do escritório regional da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do estado do Pará (Emater – Pará).
“O acesso a informação e tecnologias para o preparo da área, para o plantio e adubação é fundamental aos agricultores e o curso ofertado pela Embrapa é uma excelente oportunidade para formar multiplicadores e fazer a informação chegar em todo o município”, afirma.
Demanda do mercado
O interesse do mercado, principalmente o interno, é um dos principais fatores para expansão do cultivo do açaí em terra firme, segundo o pesquisador João Tomé de Farias Neto, da Embrapa Amazônia Oriental. Ele estima que o crescimento anual da demanda de mercado por esse fruto está em torno de 15%, já o crescimento da produção é de 5% ao ano. “Então existe uma lacuna importante para esse crescimento e a produção, principalmente na entressafra, é uma oportunidade muito interessante aos agricultores”, afirma.
Ele ressalta ainda que com o manejo adequado, adubação e irrigação é possível superar grande parte da sazonalidade na produção da palmeira e assim tornar a atividade mais rentável ao produtor.
“A produção na entressafra é para atender diretamente o mercado interno. O Pará produz 1,5 milhão de toneladas ao ano, sendo que 20% é consumido dentro da própria propriedade, 85% é no mercado local e 5% vai para outros estados e países”, explica o especialista.
Manejo certo
O agricultor Anry Nagase, do município do Acará, tem quatro hectares de plantio em terra firme de açaí e aponta que a adubação está entre os principais desafios do cultivo.
“Como aqui chove bastante, ainda não senti a necessidade de irrigar, mas minha produção está insuficiente”, afirma. O pesquisador João Tomé explica que na fase produtiva, o açaizeiro extrai mais potássio do solo, por isso é preciso intensificar a oferta desse nutriente à planta.
A polinização do açaizeiro também despertou o interesse do agricultor. O tema foi abordado pela pesquisadora Márcia Maués, da Embrapa Amazônia Oriental. Maués explica que o açaizeiro tem uma grande diversidade de polinizadores, mas as abelhas nativas são as mais abundantes e frequentes nas flores dessa palmeira.
“Muitas dessas abelhas não podem ser manejadas, então é fundamental manter ou restaurar a vegetação nativa próxima aos plantios para que esses insetos tenham abrigo e alimento fora da época de floração do açaí”, recomenda a pesquisadora da Embrapa. Ela acrescenta ainda que conciliar o manejo de abelhas com a manutenção ou restauração da floresta é fundamental para o serviço de polinização.
Na área do Anry Nagase, segundo ele, já não há tanta área de vegetação nativa, então ele aposta na introdução de colmeias no plantio.
“Vou iniciar a atividade da meliponicultura para melhorar a produção de frutos na minha área. A intenção é ter o cacho cheio”, afirma.
Já o agricultor Benedito da Silva vai mudar uma prática até pouco tempo recorrente. Ao invés de eliminar os ninhos, vai observar mais a presença das abelhas no açaizal e manter as árvores grandes dentro e nas proximidades da área.
“Quando eu encontrava a abelha arapuá, eu derrubava a árvore e queimava o ninho, porque achava que ela só trazia prejuízo. Agora eu já sei que ela é muito importante para o açaizeiro e não vou mais fazer isso”, finaliza.
Fonte: Embrapa Amazônia Oriental