Preocupados com os efeitos que o plantio de espécies de árvores exóticas, isto é, plantas não nativas como o eucalipto (Eucalyptus), podem provocar em florestas nativas presentes no entorno dessas plantações, cientistas da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) e da Universidade de Bristol publicaram nesta terça-feira, dia 7, um estudo no periódico internacional Forest Ecology and Management bem importante.
Ele mostra como as florestas plantadas com este tipo de árvore, na região do Jari, aqui no nosso Pará, podem influenciar a biodiversidade de florestas nativas e preservadas próximas a esses plantios, provocando o que os ecólogos denominam efeito de borda, que são alterações que se concentram nas extremidades dos fragmentos de floresta, deixando-os expostos ao clima, a parasitas e outros fatores biológicos e químicos que influenciam de forma negativa a vida das plantas. Ou seja, altera tudo.
Utilizando os besouros rola-bosta, espécie que apresenta papel fundamental nas florestas tropicais, a pesquisa revelou que os efeitos de borda, causados pelas plantações de eucalipto, podem alcançar até 800 metros para o interior das florestas nativas próximas a esses plantios.
A influência desses efeitos, provocados pelo desmatamento e o manejo florestal madeireiro sobre as árvores, vem sendo investigados há décadas. No entanto, pouco se sabia sobre o impacto das plantações de árvores exóticas sobre as comunidades da fauna, que habitam ecossistemas nativos e próximos dessas florestas plantadas.
Coleta
Para preencher essa lacuna de conhecimento, os cientistas coletaram cerca de 3.700 indivíduos de 49 espécies de besouros rola-bosta em florestas na região do Jari. A região foi escolhida porque faz parte de um Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD Jari), em que diversas pesquisas vêm sendo realizadas.
Os pontos de coleta foram estabelecidos em diferentes distâncias dos plantios de Eucalyptus. Eles também mediram outros fatores que poderiam influenciar os besouros, tais como: quantidade de areia no solo; abertura da copa das árvores; e quantidade de folhas acumuladas no chão da floresta.
“Nossos resultados trazem novas perspectivas e fazem um alerta sobre a expansão dos plantios de espécies florestais exóticas na Amazônia, como o eucalipto e o dendê, ao demonstrar o seu potencial efeito nas populações de besouros habitando florestas nativas adjacentes”, explica o Dr. Filipe França, professor e pesquisador da Universidade de Bristol, coautor da pesquisa.
Respostas dos besouros ao distúrbio
A pesquisa demonstra que os efeitos de borda das plantações exóticas sobre a biodiversidade das florestas nativas variaram entre as espécies e tipos de métricas monitoradas.
“As respostas dos besouros rola-bosta frente aos efeitos de borda dependeram das espécies investigadas. Por exemplo, encontramos maior quantidade de espécies sensíveis ao distúrbio distante das plantações de eucalipto, enquanto algumas espécies oportunistas aumentaram suas populações na proximidade das florestas plantadas”, ressalta Maria Katiane Costa, ex-aluna do Programa de Pós-graduação em Biodiversidade da Ufopa e líder do estudo.
Os resultados também são importantes para a tomada de decisão e práticas de conservação na Amazônia.
“Nossas descobertas são fundamentais para gestores florestais e estratégias de conservação que visam manter a biodiversidade em ecossistemas nativos da região tropical”, explicou o professor Rodrigo Fadini, coautor da pesquisa, da Universidade Federal do Oeste do Pará.
O artigo científico “Edge effects from exotic tree plantations and environmental context drive dung beetle assemblages within Amazonian undisturbed forests”, de autoria dos pesquisadores Maria Katiane Sousa Costa, Filipe França, Carlos Brocardo e Rodrigo Fadini, foi publicado no periódico Forest Ecology and Management e está disponível aqui: https://authors.elsevier.com/sd/article/S0378-1127(22)00271-7.
Fonte: Talita Baena – Comunicação/Ufopa, com informações do grupo de pesquisadores