Por Gisele Coutinho
Tecidos feitos a partir de abacaxi, banana, laranja… não, você não está lendo errado e esse texto não é sobre frutas. É sobre moda sustentável. O Pará Terra Boa conta a vocês sobre essas matérias-primas que podem substituir, por exemplo, couro de gado de áreas desmatadas.
O piñatex é um material feito a partir da fibra das folhas de abacaxi. Esse subproduto da indústria agrícola pode substituir o couro animal ou sintético na fabricação de acessórios, roupas e sapatos sem gerar gastos extras para ser produzido, como água ou defensivos agrícolas.
Sua história vem de longe, de conhecimentos tradicionais, da arte de trançar fibras de comunidades ancestrais.
Só que o piñatex ainda enfrenta desafios para ser totalmente considerado um biomaterial. Seu revestimento de acabamento é 50% de base biológica, mas os outros 50% são compostos por uma resina à base de petróleo aplicada para fortalecer o material e aumentar a durabilidade.
Outra joia para o setor é a bananeira. Sua fibra retirada do tronco da árvore é uma das matérias-primas mais visadas hoje pela indústria da moda por sua resistência na fabricação de tecido ecológico e biodegradável.
Também pai d’égua nessa história é a fibra de laranja, produzida por meio da celulose do bagaço descartado por fábricas de suco. O acabamento leve dessa fibra pode ser parecido ao da seda. Já da casca da madeira sai o modal, uma fibra bem apropriada para fabricação de peças íntimas.
Látex é opção
Aqui no Pará, o látex tem unido criatividade, afetos, arte e renda para as comunidades locais por meio do trabalho da marca Da Tribu, criada em 2009 pela artesã Kátia Fagundes. Sua filha, Tainah Fagundes, nos contou que o trabalho de transformação da borracha em arte da floresta, como jóias orgânicas, fios coloridos e tecidos, começa em comunidades ribeirinhas.
“Trabalhar com o látex só é possível devido à parceria firmada com a Comunidade Extrativista de Pedra, na Área de Proteção Ambiental (APA) da Ilha de Cotijuba /Pará), que fornece o fio emborrachado para a criação das peças”, disse ela ao Pará Terra Boa.
A extração do látex e a produção dos fios emborrachados são hoje a principal atividade econômica das famílias associadas, gerando um impacto socioambiental positivo a aproximadamente 30 pessoas. Em 2019, a Da Tribu recebeu a certificação “Amazônia Wild Rubber”, selo voltado para iniciativas que trabalham com a borracha amazônica de forma responsável.
“O foco é em matéria-prima renovável, baixo uso de água e geração de renda para os povos das florestas”, acrescenta Tainah.
Lixão de roupa
Para se ter uma ideia da gravidade do fator poluidor da moda, basta mirarmos nosso olhar para o Chile, um grande comprador de roupa usada da América Latina.
Lá existe um lixão de restos de roupas encalhadas no mundo, em pleno deserto de Atacama, um ponto turístico do país. São cerca de vergonhosas 59 mil toneladas de roupas acumuladas a cada ano no país dos bons vinhos. Veja imagens desse mar de roupas na terra aqui.
Quando não param no deserto, param nos oceanos. Os tecidos sintéticos, como poliéster e nylon, liberam pequenas e minúsculas partículas de plástico a cada lavagem. Esse tipo de resíduo é conhecido como microplástico e causa uma série de danos ao ecossistema dos oceanos.
Essa indústria é ainda responsável por 10% das emissões globais anuais de carbono, mais do que todos os voos internacionais e transporte marítimo combinados. Representa cerca de 20% das águas residuais mundiais, ou seja, esgoto, provenientes do tingimento e tratamento de tecidos, segundo o relatório da Fundação Ellen MacArthur.