A expansão sustentável do cacau tem sido extremamente benéfica para a Amazônia, integrando geração de emprego e renda à preservação da floresta. Isso porque 70% do cultivo é feito em áreas degradadas, majoritariamente por agricultores familiares e em sistemas agroflorestais. O resultado é a recuperação dessas áreas, cuja maior parte foi convertida de pastagens, com a redução do fogo e do desmatamento na região.
Essa conclusão é do trabalho “A expansão sustentável do cacau (Theobroma cacao) no estado do Pará e sua contribuição para a recuperação de áreas degradadas e redução do fogo” (The sustainable expansion of cocoa crop in the State of Pará, Brazil and its contribution to altered areas recovery and fire reduction), publicado esta semana no Journal of Geographic Information System. Ele apresenta a descrição detalhada da evolução das plantações de cacau em termos de sua expansão histórica, práticas de propriedades agrícolas, transições de uso da terra e regimes de fogo.
Outra constatação do estudo foi a tendência de conversão de áreas de pastagens em plantios de cacau, que mostra a expansão da cacauicultura na Amazônia como uma atividade que atua na recuperação de áreas degradadas.
Prova disso é a história do produtor paraense Ribamar Nóbrega, do município de São Francisco do Pará, na região Nordeste do Estado. Ele e o irmão trocaram o pasto de 35 anos da propriedade pelo Sistema Agroflorestal (SAF).
“Eu e meu irmão fazemos parte da segunda geração da família envolvida com a atividade rural. Nosso pai era pecuarista, mas buscamos uma atividade mais perene e encontramos o SAF com açaí, cacau e banana”, conta o produtor.
Ele tem atualmente 25 hectares em fase de produção com as três culturas e está em fase de implantação de mais 20 hectares.
“Optamos pelo cacau por ser uma atividade perene e também por ser uma fruta que tem um desenvolvimento adequado à nossa região. Além disso, o cacau com o açaí e a banana são atividades que se complementam e têm boa rentabilidade”, conta Ribamar.
Para o principal autor do estudo, o pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental Adriano Venturieri, não há mais que se pensar em produção de cacau na Amazônia sem a produção integrada a outros cultivos.
“O Pará já tem área aberta suficiente para uma nova mentalidade sobre a agricultura no Estado. Nós temos que passar de uma agricultura horizontal para uma produção vertical e os Sistemas Agroflorestais com o gradiente de culturas no mesmo espaço, é imprescindível”, afirma.
Menos fogo
Nos 90 mil hectares mapeados no levantamento, os pesquisadores apontam que praticamente 100% não estão em áreas protegidas. A área monitorada e mapeada está localizada nos dez municípios de maior produção cacaueira no Pará e corresponde às regiões da Transamazônica, sudeste do Pará, nordeste do Pará e Baixo Tocantins, utilizando metodologias participativas junto às comunidades locais.
“Na verdade, apenas 0,46% das áreas com cacau estão em uma área de proteção ambiental (APA), que de acordo com a legislação é permitido o desenvolvimento de atividades produtivas”, explica Venturieri.
Essas áreas com cacau, segundo o pesquisador, se mostram estatisticamente menores que as áreas sem cacau, o que demonstra uma característica da atividade na Amazônia: a agricultura familiar.
“Nós comprovamos no mapeamento o que muitos produtores já nos diziam: que o cacau é produzido em áreas menores, não desmata e ainda reduz o uso do fogo”, conta Venturieri.
O fato de o cacau, que é uma cultura perene, estar associado principalmente aos Sistemas Agroflorestais e às capoeiras e florestas parcialmente exploradas fortalece a afirmação de que há uma redução drástica no uso do fogo no preparo das áreas.
“O fogo é utilizado geralmente na limpeza do pasto e, com a conversão dessa atividade para a agricultura perene, ele também é reduzido e até substituído por outras formas de preparo de área, reduzindo assim a emissão de gases de efeito estufa e gerando maior proteção ao solo e à água”, explica Venturieri.
Fonte: Embrapa Amazônia Oriental