Que o garimpo ilegal nas terras públicas vizinhas a Itaituba é um caso de polícia, isso as autoridades já sabem. O que não se escutava desde as primeiras ações policiais na região, há anos, é que uma das empresas acusadas de extrair ouro de unidade de conservação federal acusaria a prefeitura da cidade para se defender. Foi o que ocorreu no caso da operação da Polícia Federal realizada na semana passada contra a Gana Gold, em Itaituba, onde cinco pessoas foram presas. Segundo reportagem do “Fantástico” de domingo, 10/07, a empresa respondeu que se faz algo de errado, o erro viria da autorização municipal para exploração do metal na cidade. Quem é o prefeito de lá? Valmir Climaco, o cabra do garimpo que colocou a chamada “cidade pepita” na boca do povo. A defesa da empresa afirmou à jornalista Sônia Bridi que foi “vítima de um erro do poder público”.
A empresa Gana Gold, de acordo com a investigação, “esquentava” o ouro extraído ilegalmente em garimpos da região Norte do País. Para isso, ela se valia de licenças ambientais inválidas, extrapolando os limites de pesquisa que possuía. A empresa acumula mais de R$ 17 milhões em multas do Ibama.
Segundo as investigações, o total de dinheiro movimentado às margens da lei chegou a R$ 16 bilhões em dois anos. A Polícia Federal também investiga funcionários da Agência Nacional de Mineração (ANM) no Pará por indicativos de corrupção e cooptação pelo crime. A agência disse apenas que não foi oficiada depois da operação da polícia federal, na quinta-feira.
O que se já sabe é que o presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Eduardo Fortunato Bim, pressionou o então superintendente do órgão no Estado do Pará com o objetivo de derrubar embargos contra a mineradora Gana Gold, conforme você pôde ler aqui no Pará Terra Boa.
O “Fantástico” obteve imagens da mansão de um dos empresários sócios da Gana Gold, Márcio Macedo Sobrinho, dono de helicópteros, lanchas e caminhonete importada. Outro sócio dele, segundo o programa da TV Globo, é Domingos Dadalto Zoboli, quem, de fato, daria as últimas palavras no negócio ilegal.
Ilegalidade
O Brasil exportou 229 toneladas de ouro com indícios de ilegalidade entre 2015 e 2020. O montante — revelado em um estudo recente do Instituto Escolhas — é quase a metade de todo o ouro produzido e exportado pelo País.
Do volume total de ouro com indícios de ilegalidade, mais da metade veio da Amazônia (54%), principalmente do Mato Grosso (26%) e do Pará (24%). Os casos envolvendo áreas protegidas incluem a TI Sararé (MT), a TI Kayabi (MT/PA) e os Parques Nacionais da Amazônia (PA), Mapinguari (AM/RO), do Acari (AM), e Montanhas, do Tumucumaque (AP/PA).