Por Ivana Guimarães
“Ajudar a curar um problema de desperdício e trazer alimentação saudável através de ingredientes únicos da floresta”, esses foram os motivos para a criação da Amazonika Mundi, empresa que produz alimentos, como hambúrguer e almôndega, com carne vegetal a partir da fibra do caju e outros componentes amazônicos.
O nome da marca já deixa claro que os temperos da Amazônia trazem um diferencial e atraem um público pelo Brasil afora apaixonado por ingredientes como tucupi, açaí e óleo de patauá. E para entender mais sobre essa valorização dos nossos sabores, o Pará Terra Boa conversou com Thiago Rosolem, CEO e cofundador da foodtech (nome dado às empresas que trabalham com novas tecnologias para revolucionar o setor alimentício).
Bagaço de caju
Thiago conta que a ideia de manter a floresta em pé e ser mais uma voz a favor da preservação ambiental por meio de um alimento estava presente desde o início do projeto.
“A Amazonika Mundi surgiu da nossa ideia de trabalhar com ingredientes da floresta. Nós utilizamos o bagaço do caju que era descartado pelas indústrias de beneficiadores do suco num projeto junto à Embrapa. A gente tem o desperdício do caju e esse problema gigantesco na Amazônia que precisa passar por uma conscientização das pessoas”, contou.
Além de valorizar o que a terra dá, o empresário destaca a importância de gerar renda para a população local.
Então não tinha porque a gente fazer produtos sem ingredientes daqui, não dando valor ao nosso povo, sabe? Aí todo mundo pergunta pra gente sobre dificuldade com logística, nós temos essas barreiras, mas vale a pena porque você está entregando algo de valor para os consumidores, para a floresta e para as pessoas que sobrevivem dela. O Brasil é um contrassenso, né? A gente acredita que é o celeiro do mundo na alimentação e tem gente passando fome aqui, isso é uma coisa que a gente tenta ajudar a melhorar.”
Temperos da Amazônia
Sobre os ingredientes amazônicos que eles utilizam, Thiago explica que a diversidade de sabores é grande.
“A gente usa o óleo de sacha inchi, óleo de patauá, farinha de babaçu, pimenta sissi e fizemos um trabalho ano passado com cogumelo Yanomami. Nós também trabalhamos com o extrato do açaí, o feijão manteiguinha, a farinha de Bragança e o tucupi. Hoje são 2 mil famílias que a gente consegue contribuir.”
Parceria
Para dar respaldo na compra desses produtos, a marca tem parceria com a empresa Origens Brasil.
“Eles garantem a rastreabilidade do processo. Então, assim, eu faço um contrato com uma comunidade indígena e a Origens dá para eles um suporte jurídico, passa as quantidades que eu vou comprar por ano e garante essa transparência na negociação. Eles atuam desde a logística ao suporte jurídico e ao preço tratado. A Origens ajuda a garantir essa transparência”, conta.
Receptividade no Sudeste
Thiago relata que especiarias como o óleo de patauá estão cada vez mais populares na culinária do Sudeste.
“Alguns chefs de cozinha começaram a me pedir amostras de óleo de patauá para eles testarem em pratos. Eu acho que a difusão do produto é importante para as pessoas conhecerem, né? A biodiversidade que existe é gigantesca”, diz.
Por que a fibra do caju?
E ao invés de escolher opções mais comuns utilizadas nesse tipo de mercado, como o grão de bico e a beterraba, Thiago diz que eles optaram pelo caju com o objetivo de combater o desperdício já existente.
“São 560 mil toneladas jogados fora por ano. Como é que você joga alimento fora? Então a gente tinha que usar algo que fizesse sentido dentro da nossa missão. Pensamos em usar jaca, mas ela não é uma fruta nacional”, reflete.
Produtos de plantas
Para o co-fundador da Amazonika Mundi, o movimento dos frigoríficos nacionais de investir em produtos de planta é positivo por ajudar a solidificar o mercado. Porém, ele acredita que eles podem buscar algo mais saudável para as pessoas, e não só trocar a proteína animal por vegetal. Thiago também aponta que os brasileiros têm reduzido cada vez mais o consumo de carne.
“A gente sabe que a digestão da proteína animal é muito mais lenta do que a da vegetal, né? Nós nunca fomos tão carnívoros assim como humanidade. Então, quando você faz uma refeição a base de proteína vegetal você tem uma sensação de bem estar maior”, avalia.
Economia regenerativa da floresta
Sobre a relação da empresa com a natureza e os povos originários, ele finaliza:
“A gente utiliza a bioeconomia. A biotecnologia em uma economia regenerativa da floresta, partindo do ponto de que é melhor manter a floresta em pé do que deitada. Então, a gente pratica esse extrativismo regenerativo, fazendo questão de saber como o ingrediente é extraído e o quanto que preserva de floresta. Uma relação transparente de utilização de ingredientes para uma economia regenerativa para a floresta”.