Um novo relatório da Unicef reforçou a necessidade de cuidado no uso de defensivos. O paraense conhece o efeito nocivo dessas substâncias para sua saúde. Em crianças, a exposição a poluentes em altas concentrações e/ou por longos períodos pode afetar o cérebro, causando atrasos no desenvolvimento, problemas de comportamento e até mesmo de desenvolvimento intelectual.
Em ambientes poluídos, os pulmões de crianças não se desenvolvem completamente, e o sistema imunológico fica fragilizado em função da exposição ao ar poluído. Infecções respiratórias, que já são comuns em crianças, ficam mais severas e mais frequentes em ambientes poluídos.
A contaminação por pesticidas —pelo ar ou pela água—, atinge 27,8 milhões de crianças e adolescentes brasileiros e que pode comprometer o desenvolvimento físico e intelectual dos grupos.
“Falamos do uso de pesticida como algo muito técnico, como se dissesse respeito à produção de alimentos de forma geral. Mas o princípio tem de ser o da prevenção deste uso de químico. É importante dizer que essa política precisa inclusive levar em consideração riscos específicos de crianças e adolescentes”, afirmou ao jornal Folha de S.Paulo Danilo Moura, oficial de avaliação e monitoramento do Unicef.
Outro exemplo citado no estudo é o aumento do risco de transmissão de doenças como malária, febre amarela e dengue no Brasil com as mudanças nos padrões de chuva e temperatura; a grande maioria das vítimas letais dessas doenças são crianças pequenas.
Para se ter uma ideia, no Brasil, 40 milhões de meninas e meninos estão expostos a mais de um risco climático ou ambiental (60% do total) e as mudanças climáticas comprometem a garantia de direitos fundamentais.
O relatório chama a atenção para a urgência de priorizar crianças e adolescentes nos debates e políticas voltados ao enfrentamento das mudanças climáticas. A crise climática impacta desde a frequência de chuvas até a amplitude térmica e as ondas de calor; da quantidade e da intensidade de eventos extremos, como ciclones e queimadas, até o prolongamento de secas extremas. Todos esses fenômenos afetam a vida humana de diversas formas, colocando em risco o bem-estar, o desenvolvimento e a própria sobrevivência de pessoas em todo o planeta.
O estudo cita ainda como exemplo a poluição do ar que está diretamente associada às mudanças climáticas e que no Brasil é agravada pelas queimadas e pela queima de combustíveis fósseis em áreas urbanas, impactando na expectativa de vida da população.
Aproximadamente dois em cada cinco brasileiros estão expostos a concentrações de PM2.5 (poluição do ar externa) acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No caso de crianças e adolescentes, esse número aumenta para três em cada cinco.
Recomendações
As mudanças climáticas acendem alerta urgente: já temos um problema e ele pode ficar muito maior. Precisamos lidar com ele agora e mitigar os impactos futuros, diminuir a poluição e promover a adaptação às mudanças já inevitáveis. Com base nessa análise, o relatório do UNICEF apresenta uma lista de recomendações para que crianças e adolescentes sejam prioridade absoluta na pauta climática e para que hoje, e no futuro, não tenham que crescer privados da plena realização dos seus direitos:
- Posicionar crianças e adolescentes como prioridade absoluta nos planos e nos programas relacionados ao meio ambientes e às mudanças climáticas
- Defender e fortalecer as instituições e a legislação responsáveis pela garantia de preservação e pelo enfrentamento da degradação do meio ambiente, garantindo o alcance das metas de redução de emissões.
- Garantir financiamento e recursos para a execução de políticas e projetos climáticos sensíveis aos direitos de crianças, adolescentes e jovens.
- Desenvolver estratégias que considerem os riscos e potenciais específicos de crianças, adolescentes e jovens indígenas e de outras comunidades tradicionais, negros e meninas.
- Garantir a participação de crianças, adolescentes e jovens no enfrentamento das mudanças climáticas
- Criar espaços, assegurar e estimular a participação segura – e a representatividade – de crianças, adolescentes e jovens nas esferas de debate, decisão e implementação de políticas públicas relacionadas ao meio ambiente e à crise climática.
- Priorizar investimento em educação e desenvolvimento de competências de crianças, adolescentes e jovens sobre o meio ambiente, as mudanças climáticas e as habilidades ecológicas, capacitando-os para enfrentar a crise climática e participar da crescente economia verde e azul.
- Adaptar e aprimorar serviços públicos para garantia de direitos
- Adaptar os serviços públicos que atendem crianças e adolescentes com base nos cenários de vulnerabilidade e risco de desastres, e nas possibilidades de mudanças de longo prazo nas temperaturas, no padrão de chuvas e estiagens. Garantir a infraestrutura de escolas e hospitais, para assegurar o bem-estar dos usuários e a continuidade dos serviços essenciais.
- Engajar a sociedade
- Engajar o setor produtivo em defesa da adoção de medidas de preservação ambiental e de manejo sustentável das cadeias de produção e transporte.
- Estimular investimentos e outras medidas que promovam e acelerem a transição para uma economia verde, abrindo oportunidades de inclusão socioprodutiva de adolescentes e jovens.
As quatro recomendações devem ser colocadas em prática, priorizando sempre grupos mais vulneráveis no que ser refere a idade, gênero, raça e etnia, renda, deficiência e situação migratória.
Fonte: UNICEF
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