A Conferência do Clima da ONU (COP27) reuniu pesquisadores na manhã de quinta-feira, 10/11, para falar de “Financiamento Climático – O papel da sociedade civil na economia verde”. Esta é a primeira vez que os estados amazônicos contam com uma representação específica para abrigar uma agenda própria. Esse tema é vasto e complexo, uma vez que parte dos recursos é cada vez mais reduzida ao longo dos anos e, ainda, muitas vezes não chega às populações periféricas, que são as que mais sofrem com as mudanças no clima, como inundações e ondas de calor.
Durante o evento, representantes de organizações sociais e da administração pública refletiram sobre os desafios do financiamento na transição para a economia verde, já que essa batalha contra desmatamento, mudanças climáticas e aquecimento global requer união entre setor público e privado para bancar o futuro das futuras gerações. Ou seja, é preciso que a verba, muito bem-vinda, por sinal, também melhore a qualidade de vida das pessoas que dependem da floresta.
“O desafio que a gente tem em relação à Amazônia é que a sociedade brasileira precisa abraçar esse projeto. Os governos precisam receber a mensagem de que a sociedade quer um programa para geração de externalidade positiva climática, equidade e que mantenha essa floresta em pé.
Quando a gente fala sobre investir na natureza, a gente costuma tratar como complicado, como se a mensuração fosse difícil. Isso não é verdade. Criamos uma falsa narrativa, os dados existem, a tecnologia existe. O nosso papel como sociedade também é mudar essa narrativa, confrontar o setor financeiro para que a mesma ousadia, brilho e inovação que têm para fazer um monte de produto porcaria seja usado para fazer com que a gente possa financiar a solução climática do país.
E se a gente fizer isso, o Brasil poderá ter um exemplo para os outros países da bacia amazônica porque muitos dos desafios são comuns entre eles e não adianta a gente salvar a Amazônia brasileira e deixar o resto da Amazônia ir embora”, disse Marcelo Furtado, co-fundador da Coalizão Brasil.
Carolina Genin, diretora do programa de Clima do WRI Brasil, destacou a importância de resolver desigualdades sociais ao mesmo tempo em que se mantém a floresta em pé, como saneamento, geração de empregos, focando nas pessoas que vivem da biodiversidade.
“Não tem Amazônia sem desenvolvimento econômico sustentável, né? Não dá pra virar jardim botânico, tem milhões de pessoas morando lá, indústria, agro, cultura, tecnologias sociais e de inovação. Então tem toda uma Amazônia ali que precisa ser traduzida para o público internacional. Quando se discute soluções climáticas e o papel da Amazônia, nós, como parte dessa solução, precisamos criar canais de diálogo entre o global, o nacional, o subnacional e até no nível municipal.
Temos que trabalhar juntos nesse objetivo comum de conseguir desenvolver a Amazônia, mas também preservar as nossas florestas, os nossos rios, nossas culturas. Queremos salvar as florestas, mas o dinheiro não pode ser só para manter a floresta em pé. Tem que gerar renda, tem que gerar emprego, tem que gerar saneamento para as cidades que também sobrevivem dessas economias florestais.”
Karen Oliveira, gerente de Políticas Públicas da TNC Brasil, explicou sobre o trabalho que eles desenvolvem no Pará, especialmente aqueles relacionados a restauração florestal.
“Nós trabalhamos muito no estado do Pará observando que a questão do desmatamento sempre foi o grande problema lá. A partir daí percebemos que se nós conseguíssemos desenvolver modelos que funcionassem no estado que concentra o maior volume de desmatamento, maior volume de emissões de gases do efeito estufa, os maiores problemas relacionados ao uso do solo, já que esse uso desordenado faz o Brasil ter um desempenho muito ruim em termos de emissões, a gente poderia construir uma solução a ser replicada em outros territórios. A gente constrói soluções que ajudem a produzir mais sem desmatar, sem derrubar a floresta, baseadas na cultura regenerativa e também trabalhamos muito com reflorestamento com cacau.”
Victor Salviati, superintendente de inovação e desenvolvimento da Fundação Amazônica Sustentável, comentou sobre o papel da filantropia no financiamento climático.
“A gente tem que olhar também para a filantropia. Hoje no mundo tem basicamente US$ 300 milhões por ano que vem para Amazônia por meio dela. A gente tem que divulgar e tocar essas pessoas que estão doando e esse dinheiro tem que ter impacto porque ele é um dinheiro que não vai vir toda hora”, refletiu.
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