Como o Pará é o Estado brasileiro com mais desmatamento do país, aparece como o primeiro da lista de emissores de gases de efeito estufa (GEE), aqueles que aquecem a Terra. É o que indicam dados apresentados pelo Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases do Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, na Conferência do Clima da ONU (COP27), realizada no Egito.
As emissões líquidas desses gases avançaram 21,4% nos últimos sete anos, saltando de 1.446 milhão de toneladas (MtCO2e) em 2015 para 1.756 MtCO2e em 2021. A meta é que o Brasil chegue a 2025 emitindo 1.614 MtCO2e e a 2030 com 1.281 MtCO2e. Na comparação das emissões de 2020 para 2021, o Brasil teve um aumento de 12% nas emissões, o que é bastante preocupante entre os especialistas. E dentro desse cenário, um dos pontos que mais chama a atenção é o aumento dessas emissões ter acontecido em praticamente todos os setores, exceto no tratamento de resíduos, neste caso, pela primeira vez na história do país.
Esse cenário faz do Brasil o quinto país maior emissor de gases de efeito estufa do mundo, depois da China, dos Estados Unidos, da Índia e da Rússia. A diferença é que nos demais países citados, três quartos das emissões estão relacionadas à queima de combustíveis fósseis. No Brasil, os aumentos na emissão de GEE aconteceram na agropecuária (3,8%), nos processos industriais (8%), na energia (12%) e nas mudanças do uso da terra devido, principalmente, ao desmatamento (18%).
Para alcançar as metas acordadas, os principais desafios do país — de acordo com os especialistas presentes na apresentação — serão reduzir o desmatamento e as emissões de metano (CH4) na atmosfera, além de aplicar as técnicas de agricultura de baixo carbono.
“O nosso compromisso em relação à Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) era reduzir entre 36-38% das emissões em 2020 em relação à projeção que foi realizada em 2010. Isso dava uma meta bem alta de, no máximo, 2.068 MtCO2e (GWP-AR2) em 2020, mas ficamos na marca. No entanto, em 2021, as nossas emissões foram bem maiores do que a nossa meta de 2020. Nós simplesmente ‘estouramos’ a meta do PNMC”, ressaltou Tasso Azevedo, coordenador do SEEG, do Observatório do Clima.
Já em relação ao Acordo de Paris, Azevedo pontuou que o país terá que reduzir 37% das suas emissões líquidas em 2025, e 50% até 2030 em relação a 2005. Isso representa uma meta de emitir, no máximo, 1.614 MtCO2e em 2025, e 1.281 MtCO2e em 2030.
“Hoje estamos em 1.756 MtCO2e (GWP-AR5), tendo que chegar em 1.614 MtCO2e em 2025, ou seja, neste momento o Brasil está se distanciando da meta de 2025. E para 2030 estamos mais distantes ainda, com quase 500 MtCO2e a mais do que devemos alcançar. Isso significa que precisamos fazer um esforço importante agora para conseguir chegar em 2030 com 1.3 bilhões de toneladas”, alertou o coordenador do SEEG.
No ranking dos estados mais emissores de GEE, o Pará é o primeiro na lista, especialmente por conta de desmatamento, ou o chamado “uso da terra”. Mato Grosso aparece em segundo pelo mesmo motivo e Minas Gerais, em terceiro. Já quando a mudança do uso da terra é retirada da análise, o panorama muda: São Paulo passa a ser o estado que mais emite GEE, especialmente devido ao setor de energia, seguido por Minas Gerais, Mato Grosso (agropecuária), Rio Grande do Sul, Goiás, Rio de Janeiro e apenas depois aparece o estado do Pará.
A média de emissão per capita do Brasil é de 11 toneladas por habitante. No entanto, observa-se uma imensa diversidade de fatores e de realidades dentro do Brasil. Roraima, por exemplo, tem emissão per capita mais alta do que a do Catar (país com a maior emissão per capita do mundo, mais de 90 toneladas por habitante). Por outro lado, o Rio Grande do Norte apresenta emissão per capita compatível com pequenas ilhas, com 1-2 toneladas por habitante por ano.
“Praticamente metade das nossas emissões vem de mudanças de uso da terra, onde obviamente o destaque é o desmatamento. O segundo setor que mais emite CO2e é a agropecuária, seguido pelo setor de energia, pelos processos industriais e, por fim, pelo segmento de resíduos. Tudo o que está relacionado com o uso da terra, que é a mudança do uso da terra e a agropecuária, responde por quase 75%, ou seja, três quartos das nossas emissões”, explicou Azevedo.
Historicamente, o uso da terra foi o principal responsável pelas emissões de gases de efeito estufa no Brasil.
Queima de combustíveis
Dentro dos setores de energia e de processos industriais, as principais preocupações dos especialistas têm sido as emissões de GEE geradas pela queima de combustíveis (predominando a queima de combustíveis fósseis).
Conforme contextualizou o painelista David Tsai, os derivados de petróleo são os principais combustíveis emissores de gases de efeito estufa dentro dos setores de energia e processos industriais no Brasil (54% das emissões). Esses combustíveis são queimados e produzem emissões principalmente nas atividades de transporte – responsáveis por 38% do que é emitido nesses dois setores – e na indústria – que emite 31% do total de CO2e gerado em energia e processos industriais. Já a geração de eletricidade somada à produção de combustíveis totalizam 22% das emissões do setor de energia e de processos industriais.
Energia e processos industriais
“Em especial, no ano passado, observamos picos de emissões após seis anos de relativa estagnação econômica. É importante observar que a recuperação da economia, ainda que tímida, refletiu no crescimento de emissões nos setores de energia e processos industriais”, observou o gerente de projetos do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), David Tsai. Além disso, houve aumento do uso de energia fóssil, também puxando as emissões para cima e indicando que o Brasil está na contramão do que precisa ser realizado para descarbonizar sua economia.
Nesse contexto, a matriz elétrica brasileira também foi menos renovável.
“Tivemos no ano passado uma queda na geração hidrelétrica por conta da crise hídrica. Isso levou a um acionamento maior de termelétricas a combustíveis fósseis, gerando aumento de emissões”, comentou o gerente de projetos do IEMA.
Ele também destacou o crescimento do uso do óleo diesel no território nacional, ressaltando que o maior desafio para a redução de emissões de gases no setor de energia está no transporte de cargas, e que as possíveis soluções ainda não aparecem em um horizonte próximo.
Historicamente, o Brasil tem o maior rebanho comercial de gado de corte do mundo, sendo que há mais cabeças de gado no país do que brasileiros. Esse rebanho de corte e de leite emite toneladas de gás metano na atmosfera (cerca de 80% de todo o metano emitido pelo Brasil) por meio da ruminação e eructação.