Por Ricardo Spaniol, para Sumaúma
Já que ainda estamos na semana da COP da Biodiversidade da ONU, o Pará Terra Boa traz hoje o último conteúdo produzido por publicações respeitadas sobre o assunto. O evento ocorre até esta segunda-feira, 19/12, em Montreal, no Canadá. A seguir, o site Sumaúma apresenta a terceira parte da série ‘Natureza no Planalto’, em que pesquisadores escrevem textos, com função de alerta, ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva:
Meu nome é Ricardo Spaniol, sou biólogo, pesquisador e autor do estudo Descolorindo a Amazônia: como o Desmatamento Está Afetando a Coloração das Borboletas. Represento aqui a Prepona narcissus, uma espécie majestosa de borboleta da Amazônia que tem na parte exterior de suas asas uma coloração azul metálica e vermelha e na parte do ventre um incrível laranja tropical. Habitante da copa das mais altas árvores da floresta, ela está em risco de sumir, assim como uma variedade enorme de borboletas coloridas da Amazônia.
Nosso estudo, publicado em 2020, constatou que o desmatamento está acabando com a diversidade, está acabando com as cores, produzindo uma terra devastada com predomínio de borboletas marrons e cinza. São elas que conseguem se camuflar na floresta degradada ou destruída. Ser chamativa se torna uma desvantagem. As cores podem tornar as borboletas presas fáceis, e por isso elas morrem ou migram rapidamente para outros locais.
Muitas dessas borboletas são endêmicas, ou seja, acontecem apenas naquela região geográfica e em nenhum outro lugar do mundo. Quando a gente destrói cada vez mais pedaços daquela região onde elas existem, elas não têm mais onde se refugiar e poderão se extinguir para sempre. Se isso acontecer, essa população nunca mais poderá ser resgatada.
A bela Prepona narcissus integra o Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, coleção com 7 volumes publicada em 2018 pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Por isso, em nome dela e das outras borboletas coloridas da Amazônia, reivindico ao governo Lula que os órgãos ambientais sejam fortalecidos imediatamente, para que seja possível reverter o aumento do desmatamento e das queimadas na floresta.
No nosso estudo, percebemos que, à medida que a floresta vai se regenerando, há um movimento gradativo das borboletas coloridas voltando. Um padrão muito próximo ao de uma floresta conservada se restabelece.
São espécies de borboletas que conseguiram abrigos em remanescentes florestais próximos que não foram afetados pelo desmatamento ou pelas queimadas e retornam e repovoam os espaços em recuperação. Por isso, o novo governo precisa trabalhar em projetos de restauração florestal, assim teremos chances de conseguir resgatar a diversidade das borboletas nos espaços destruídos. Temos as ferramentas e a tecnologia para conseguir recuperar grandes áreas da floresta. É fundamental ainda aumentar o investimento em ciência e tecnologia.
Por último, é preciso que o governo se empenhe em fazer que as pessoas conheçam a Amazônia e saibam que vidas magníficas como a da Prepona narcissus existem. É difícil cuidar, conservar algo que você não conhece ou pelo que não tem afeto nem curiosidade. É preciso fazer chegar ao maior número possível de brasileiros informação sobre o que realmente acontece na floresta – por meio da educação.
Fonte: Sumaúma