Por Ivana Guimarães
O Pará Terra Boa recebeu um relato do cacauicultor Élido Trevisan, de Medicilândia, sobre problemas que ele tem enfrentado com a baixa produtividade da sua lavoura de cacau, toda plantada em sistema agroflorestal (SAF). Ele explica que, no início, as árvores forneciam a sombra ideal, mas hoje, com a lavoura mais antiga, as madeiras cresceram e há um excesso de sombreamento, o que resulta em baixa produtividade.
“Minha intenção não é acabar com esse sistema, mas se eu for olhar uma lavoura a pleno sol e uma lavoura de SAF, eu tenho um terço da produção. Então, nós temos um desafio aqui para essas lavouras que estão com mais de 40 anos e que estão deixando a desejar na produção e também no manejo. Eu estou aqui nessa área de 70 hectares passando por esse dilema de cair muito a minha produtividade, mas ainda esperando que venha alguma solução”, disse o produtor rural.
Para entender como lidar com a baixa produtividade em sistemas agroflorestais, o Pará Terra Boa conversou com Sidevaldo Santana, extensionista rural da Emater. E a boa notícia é que seu Élido não vai mesmo precisar acabar com sua produção de cacau, como explicou o especialista sobre o sistema de plantio.
Segundo ele, o sombreamento da lavoura do seu Élido e demais produtores da região foi formado de forma espontânea, com pouca interferência por parte do agricultor. Portanto, diversas plantas arbóreas compuseram o arranjo produtivo e muitas dessas arvores, com grande proximidade umas das outras e copa bastante densa, acabaram competindo com as plantas de cacau.
“O seu Élido é um produtor tradicional de Medicilândia, preocupado com as questões ambientais, e seu sistema de cultivo de cacau é bem representativo no município. Como ele mesmo disse, esses plantios já estão decadentes, já passaram de seu pico produtivo e sua produção entrou em declínio, tornando inviável o cultivo. Portanto, já se faz necessário a renovação dessas lavouras”, explica Sidevaldo
O profissional da Embrapa afirma que seu Élido pode trabalhar de forma gradativa na substituição desses cacauais, com eliminação total das plantas cacaueiras e fazendo o raleamento deste sombreamento. De acordo com Sidevaldo, ele pode eliminar as árvores que estejam muito próximas umas das outras, as de copa muita densa, e fazer retirada daquelas que têm uma concorrência com a lavoura de cacau.
O código florestal prevê o uso racional de um percentual de madeiras da propriedade e o cacauicultor, com auxílio das secretarias municipais de meio ambiente, poderá lançar mão desse recurso e começar a fazer a renovação dessas áreas. Com certeza, se faz necessária a presença da assistência técnica para contribuir nesse processo de renovação. Hoje em dia, já se tem variedades novas de cacau, com alta produtividade e com características de comportamento diferente, umas que toleram mais sombreamento, outras mais o sol, permitindo uma readequação do SAF ali já existente”, esclareceu Sidevaldo.
O cacau em SAF
A técnica de SAF consiste em plantar o cacau junto de outras culturas de árvores, como palmeiras ou frutas, simulando o bioma de origem da planta, a floresta Amazônica. Entre as culturas normalmente utilizadas estão o açaí e a banana. O extensionista rural falou sobre a importância de se plantar cacau em SAF para a cacauicultura paraense.
“O sistema agroflorestal tem fundamental importância nos cultivos tropicais, principalmente nos eixos ambientais, sociais e econômicos. As plantas cacaueiras cultivadas a pleno sol têm um consumo maior de energia e mais lançamentos foliares, podendo ser ‘pratos cheios’ para pragas como chupança do cacau. Portanto, as árvores que cobrem as copas das plantas de cacau promovem um microclima agradável ao cacau, permitindo um controle biológico maior e criando um ambiente não muito atraente para as pragas”, afirma.
Ele explica que esse processo possibilita uma dependência menor por inseticidas, já que as árvores que compõem o SAF espontâneo ou adequadamente formado trazem uma maior ciclagem de nutrientes através da dispersão de suas folhas, flores, frutos e até mesmo dos seus galhos. Tudo isso sem falar na conservação das espécies florestais nativas dessa região.
O SAF adequadamente implantado permite a introdução de espécies arbóreas com finalidade alimentícias, farmacêuticas e econômicas, o que pode melhorar a soberania alimentar das famílias envolvidas no cultivo e também dos animais domésticos, promovendo mais uma fonte de renda dentro da propriedade”, finalizou.