A fuga em massa de garimpeiros da Terra Indígena (TI) Yanomami, em Roraima, acende um alerta em relação à vulnerabilidade de outras TIs, que já sofrem com a invasão da mineração ilegal.
Munduruku e Kayapó, ambas no Pará, são as que mais preocupam por serem, segundo monitoramento do Mapbiomas, as que têm maior território devastado pelo garimpo, como já noticiada pelo Pará Terra Boa aqui. Em 2021, a extensão territorial onde foi identificada atividade garimpeira somava 11.542 hectares na TI Kayapó e 4.743 hectares na TI Munduruku.
De acordo com a antropóloga do Instituto Socioambiental (ISA), Luísa Molina, que atuou com TIs no Pará, a maior presença de garimpeiros em um local já marcado por disputas agravará os conflitos pelas terras.
“No alto Tapajós, a TI Munduruku fica ligada a um município chamado Jacareacanga e ela ficou no segundo lugar como munícipio com maior índice de mortes violentas intencionais em 2022. São locais muito conflagrados, e o garimpo movimenta tudo: relações políticas, comerciais, familiares”, afirma ao g1.
A estimativa é que ao menos 20 mil garimpeiros estejam na Terra Indígena Yanomami, causando uma crise humanitária sem precedentes no território. A região está em emergência de saúde desde 20 de janeiro e inicialmente por 90 dias, conforme decisão do governo Lula.
Para o ex-presidente da Funai Sidney Possuelo, a ação do governo devia começar por expulsar garimpeiros dessas duas TIs no Pará.
“Infelizmente existe um problema de saúde na terra dos Kayapó, onde algumas aldeias já foram corrompidas por garimpeiros, o que levou à dissensão interna e até à morte. É necessário agir agora para evitar conflitos. O governo brasileiro deve agir da mesma forma que já está agindo na Terra dos Yanomami”, defendeu Possuelo ao Brasil de Fato.
O médico e diretor da ONG Saúde e Alegria, Eugenio Scannavino, que atua na região há 30 anos, chama a atenção para os prejuízos sanitários, sociais e a dispersão de atividades ilegais pela região da Amazônia Legal que essa debandada sem controle pode ocasionar.
“Essas pessoas vão para as cidades vizinhas e, das cidades vizinhas, elas vão procurar outras áreas de garimpo, outras áreas onde exista menos fiscalização e vão continuar”, disse Scannavino a GlobNews.
Scannavino ressalta ainda que a cadeia de atividades ilegais não se restringe ao garimpeiro da base.
“A gente tem que saber o que fazer com esse contingente de garimpeiros da base, da ponta. Agora, esses garimpeiros são apoiados por alguém. Eles vendem o ouro pra alguém, existe o gerente do garimpo, existem os outros apoiadores, essa cadeia da ilegalidade vai lá em cima, não termina neles.”
Para Possuelo, não se pode esperar que a situação piore. “Temos que cobrar ações imediatas da Funai e das outras autoridades”, defende.