Por Ivana Guimarães
Pensar em soluções climáticas a partir do ponto de vista das periferias é preciso! Em 2025, Belém pode ser sede da Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP30) e, nesta última semana, lideranças periféricas, negras, indígenas, quilombolas e ribeirinhas discutiram mudanças climáticas na capital paraense, na COP das Baixadas.
O nome do evento faz referência as áreas mais baixas da cidade que antigamente alagavam, mostrando que as populações que vivem nessas regiões são as mais afetadas por mudanças climáticas.
Nesta primeira edição, foram definidos três eixos principais de discussões: Direito à Cidade – Mobilidade, adaptação e políticas públicas; Comunicação – Artivismo e intervenção artística como conscientização nas periferias; e Clima e Sociedade – Impactos nas periferias, soberania alimentar, alagamentos, deslizamento e migração.
Durante a programação, diversas lideranças comunitárias compartilharam um pouco do trabalho que desenvolvem com os povos amazônicos. Uma delas é o Museu D’água, projeto de resgate cultural do Distrito Dagua, conjunto de bairros periféricos da zona sul de Belém que crescem com a história do rio Guamá.
“O Museu D’água traz os próprios moradores como agentes históricos. A gente quer que eles se enxerguem como parte dessa história porque às vezes quando se fala de história da cidade de Belém ou do Pará, a gente tem sempre aquela mesma narrativa contada pelos colonizadores. Então, a gente quer descolonizar essa memória trazendo para os afetos dos moradores e do que eles tem pra falar porque é através disso que a gente consegue que eles se sentem pertencentes desse lugar e queiram lutar por ele”, explicou Ruth Ferreira, diretora do museu.
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Luene Karipuna, liderança de base na Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Amapá e Norte do Pará (Apoianp) falou sobre os impactos das mudanças climáticas na vida de populações indígenas.
“Mudança climática para os povos indígenas não afeta só a alimentação, o plantio de roça ou os peixes, ela afeta diretamente na nossa comunicação com a natureza e no nosso repasse de saberes ancestrais. Quando uma chuva se antecipa ou demora a passar, a gente não consegue mais se comunicar com a natureza. Então é uma estrutura que precisa estar conectada e precisa estar em harmonia”, disse Luene.
Quilombola do Marajó, Alan Batista, mais conhecido como Cabano, chamou atenção para a vida da população marajoara, que precisa ser enxergada além do apelo turístico da região. Cabano também falou sobre o Observatório do Marajó, organização não governamental que cria tecnologias para comunidades tradicionais da ilha.
“Quando as pessoas ouvem falar do Marajó geralmente é sobre as belezas naturais e fica restrito a Soure e Salvaterra. Gente, o Marajó tem 17 municípios, muitos problemas sociais, um dos piores IDHS do Brasil fica no Marajó. Então, além dessa capa do Marajó Bonito, existe um Marajó com déficit de atenção pública que é muito grande. E o Observatório do Marajó chegou pra tentar dar voz para comunidades como as quilombolas e ribeirinhas, que geralmente não são escutadas Além disso, ele tem muitos projetos que visam a melhoria de vida da população, se preocupando sempre com a questão da linguagem. A gente produz cartilhas sobre crise climática usando o termo mudança no tempo para ser mais acessível para a população de lá.”
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Samara Cheetara, artista do carimbó, finalizou a roda de conversa “Redes de Juventudes pelo Clima” com um verso da música “Queimadas”, do mestre Lourival Igarapé.
“Foi bem-te-vi quem viu a terra arder. Foi bem-te-vi quem viu a mata queimar. Beija-flor me deu um beijo, antes de partir. Partiu contrariado de ver tantas queimadas nas florestas tropicais, as vidas se acabando, as fontes todas secando sem ter água pra beber. Mas um dia a terra gira para o lado do bem. Faz nascer novas sementes na cabeça dessa gente que não pensa em ninguém. É aí que a coisa muda, toda muda terá vida, toda vida terá sol e faz girar o girassol.”