“Precisamos de um ‘Amazon Green Deal’ para salvar a Amazônia e, assim, salvar o planeta”. O apelo foi feito pelo climatologista Carlos Nobre, durante o Painel Científico para a Amazônia (Spa, na sigla em inglês), reunião com 240 cientistas de oito países amazônicos, que aconteceu em Belém na semana passada. A expressão “amazon green deal (acordo verde da Amazônia, em tradução livre) foi registrada por Nobre para evitar usos comerciais, segundo o Valor.
O cientista alertou sobre a proximidade do “ponto de não retorno”, que é aquele em que a floresta está tão desmatada e degradada que não consegue mais se regenerar naturalmente.
“Precisamos de uma moratória no desmatamento e nos incêndios florestais, principalmente no Sul da Amazônia”, disse Nobre.
Pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), Nobre falou sobre a importância de restaurar pelo menos 50 milhões de hectares em todos os países amazônicos. O desafio lançado no ano passado durante a COP 27, no Egito, envolve dois arcos de restauração florestal.
“Mais de 20 milhões de hectares desmatados estão em terras indígenas, áreas de conservação e terras devolutas”, citou Nobre. “Se houver sucesso [na regeneração florestal], serão removidos 500 milhões de toneladas de gás carbono”, complementou.
O pesquisador explicou que um dos eixos do painel científico é a busca por soluções, considerando e atendendo os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), em relação a remediar e restaurar a biodiversidade, desenvolver uma nova bioeconomia e empoderar as populações da Amazônia.
Nobre afirmou que o Painel deve definir os temas emergentes e prioritários, quais serão os policy briefings que serão lançados nas próximas COPs. E defendeu investimentos em ciência e tecnologia e a necessidade de aproximação da bioindústria, de acordo com a Academia Brasileira de Ciências. Ao final dos debates, Nobre comentou que o Painel vai buscar ampliar as discussões além dos setores acadêmicos.
O governador do Pará, Helder Barbalho, afirmou que o estado se apresenta para construir soluções que sejam sustentáveis ambientalmente e socialmente de modo sintonizado. Ele argumentou que toda e qualquer solução precisa conciliar a lógica de manter a floresta em pé e atender as pessoas.
“É o maior bioma tropical do planeta e 29 milhões de pessoas que moram nessa região”, afirmou.
Barbalho também citou dados econômicos gerados pela bioeconomia, mas apenas 0,2% são provenientes do maior bioma do Brasil. Ele defendeu que a floresta seja um ativo econômico e considerada uma “commodity global”.