Por Ivana Guimarães
As fortes chuvas que atingem o Pará têm prejudicado milhares de pessoas, fazendo com que muitas famílias fiquem desabrigadas e em situação de vulnerabilidade. Nesse sentido, a Rede Jandyras, grupo de mulheres de Belém que lutam por justiça climática, tem tido um papel fundamental na conscientização da população de que esses problemas são resultado da crise climática, uma realidade que precisa ser combatida.
Mais do que isso: essas mulheres querem que as periferias na Amazônia saibam que os impactos das mudanças climáticas não ocorrem da mesma maneira em todas as regiões. Afinal, populações em vulnerabilidade social ou compostas de minorias étnicas são as mais prejudicas com a degradação ambiental. E isso tem nome: racismo ambiental.
A rede nasceu em 2021, quando 40 mulheres começaram a se reunir para falar sobre justiça climática. Elas passaram a monitorar e a propor soluções para os questões ambientais da cidade onde moram.
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“Estamos vendo hoje alagamentos e rios transbordando, que mostram que a mudança climática já chegou até nós há muito tempo, ela não é uma coisa futura. Esses problemas nos atingem diretamente, e um dos nossos propósitos é informar a população do porquê isso está acontecendo. Então a gente trabalha para que o povo se engaje e reivindique os seus direitos.”, disse a engenheira ambiental Waleska Queiroz, uma das integrantes do grupo.
Waleska conta que foi criada no bairro da Terra Firme, uma área de periferia, e conviveu desde cedo com muitos problemas relacionados à falta de infraestrutura básica. Porém, ela não associava o agravamento destes problemas com a questão do clima.
“A partir do momento que eu comecei a me inserir nesses espaços de debate eu fui entender que todos os problemas que eu passava não eram normais e iriam se agravar com a questão da pauta climática.”
Um Estudo do Pólis, que publicamos aqui no Pará Terra Boa no ano passado, mostra que em Belém os efeitos da crise ambiental, como inundações, enchentes e deslizamentos, se manifestam de forma territorialmente desigual, impactando desproporcionalmente pessoas negras, famílias de menor poder aquisitivo e domicílios chefiados por mulheres com renda de até um salário mínimo.
A pesquisa mostra, ainda, que nas áreas de risco, a população negra corresponde a 75%, enquanto a média geral da cidade é de 64%. Por outro lado, bairros com maior poder aquisitivo, como Nazaré e Batista Campos, estão longe desses perigos.
Em busca de soluções, uma das primeiras iniciativas da Rede Jandyras foi a criação de uma agenda climática para Belém, que foi construída a partir das vivências das integrantes do grupo.
“Nós elencamos alguns pontos importantes das problemáticas que a gente vivia no nosso território e fornecemos soluções práticas para que a gente consiga resolver essas questões. Uma delas é a criação de um Fórum Climático para Belém. A gente começou a construir uma campanha chamada Fórum Climático Já, que chegou até os tomadores de decisão para fazer com que esse documento que saia do papel e se torne efetivo”, explicou a engenheira.
Segundo Waleska, o grupo realiza eventos com a população periférica, quilombola e indígena para falar sobre clima, por entenderem que as comunidades tradicionais têm o entendimento que preservar o ambiente é uma forma de minimizar os impactos da crise climática.
“Precisamos ocupar esses espaços para que realmente a gente seja ouvido. A gente está lutando pela nossa sobrevivência”, finalizou ela.