A tradição de nomear barcos faz dos rios amazônicos bilhetes que correm. No vai e vem das marés, mensagens inteiras ou substantivos únicos dão o tom das águas. Na Amazônia, os rios falam. E foi de tanto ouvi-los que Ellen Cristina da Silva Corrêa decidiu escrever.
“Ao ouvir as histórias do meu pai, pescador, e do meu avô, escutava sempre os nomes das embarcações. Então, comecei a observar esses nomes de maneira mais atenta, procurando verificar o que eles representavam para quem os escolheu”, revela a professora.
O interesse resultou na dissertação ‘Nomes a navegar: saberes, práticas e significados nos nomes das embarcações pesqueiras de Bragança-Pará’. No estudo, a autora buscou compreender de que forma se estabelece a escolha dos termos usados para nomear os barcos na cidade de Bragança, nordeste paraense.
“Eu percebi que todo e cada significado revela muito sobre o seu dono: suas crenças, o que viveu ou ainda vive. O barco é uma extensão desse sujeito. Na pesca artesanal, sobretudo, os nomes personalizam a embarcação, transcendem o ato de nomear um pedaço de madeira. Há estudos que comprovam que os nomes dos barcos têm relação com a história de vida dos seus proprietários, como se fossem cartas que contam a história de vida do barqueiro”, afirma Ellen
A pesquisa parte da ideia de que, por meio do significado dos nomes das embarcações, é possível compreender a interação entre homem, embarcação e natureza. Ellen começou pela pesquisa de campo, buscando informações nos estaleiros bragantinos e, em seguida, por meio de depoimentos orais e entrevistas, coletou as falas dos sujeitos abridores de letras e dos donos de barcos.
“Me debrucei sobre o tema por meio de fontes primárias. Em seguida, parti para pesquisa de campo. Fiz duas visitas para conversar com os sujeitos, de maneira espontânea, observando a dinâmica na vida real. Na terceira visita, fui munida de materiais para registro, tais como: caderno de anotações, celular e gravador. Então selecionei os seis entrevistados e, na visita seguinte, apliquei um roteiro semiestrurado de entrevista para coletar as informações”, detalha.
A autora percebeu que, em Bragança, os nomes dados aos barcos levam em consideração os contextos socioculturais que cercam seus proprietários, além de questões religiosas, parentais e afetivas. Também foi possível identificar a relação entre os abridores de letras navais e os nomes que eles pintam. Segundo a pesquisadora, os simbolismos presentes nos nomes das embarcações expressam as vivências dos donos dos barcos e marcam os saberes e fazeres dos abridores de letras, responsáveis por materializarem esses nomes.
A matéria completa sobre a dissertação você lê aqui.