O ato de resistência protagonizado pelo coletivo Guardiões do Bem Viver, do território PAE Lago Grande, foi reconhecido pelo prêmio Megafone de Ativismo 2023, na categoria de ação direta. O “Rabetaço, o grito que vem da Amazônia’’ aconteceu em agosto de 2022 e teve como tema “Enraizando resistências nas águas e na floresta para o clima não esquentar”, que foi um momento de denunciar a realidade vivida no rio Arapiuns com o desmatamento e seus impactos causados aos moradores da região.
Nessa ação, os jovens, juntamente às lideranças comunitárias das aldeias e comunidades da região do Arapiuns, saíram em rabetas, embarcações comuns na região, levando cartazes de denúncias e conscientização, que traziam mensagens como “o rio é nosso corpo, nosso sangue, nossa vida”. Cerca de 150 pessoas participaram da mobilização com barcos e palavras de luta, que marcaram esse ato pela Amazônia e seus povos.
“A gente sentiu necessidade de fazer algo em defesa do rio e fazer com que as nossas vozes pudessem ecoar. Por conta da incidência das madeireiras dentro da região, que exploram madeira ilegal e jogam resíduos diretamente no rio, a população do alto arapiuns, que depende dessa água até para beber, é prejudicada. O coletivo tem a visão de lutar por políticas públicas e uma delas é o nosso direito a uma água de qualidade”, defendeu Marlon Rebelo, integrante do coletivo Guardiões do Bem Viver.
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O Prêmio Megafone de Ativismo é a primeira e única premiação brasileira para iniciativas e pessoas que se destacam no ativismo. Os premiados estão sendo anunciados pelas redes sociais em vídeos protagonizados pela atriz e humorista Nathalia Cruz e receberão um troféu, que é uma obra de arte feita pelo artivista Mundano.
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Dos 14 finalistas, quatro estão diretamente relacionados à defesa dos povos indígenas, três à defesa da democracia, três a denúncias de racismo e dois à defesa do meio ambiente.
“Embora sejam assuntos diferentes, todos têm relação entre si, uma vez que direitos humanos e a preservação ambiental são intrinsecamente relacionados com regimes democráticos. Democracia, meio ambiente e direitos humanos foram também as áreas mais atacadas pelo governo Bolsonaro. O que o Prêmio Megafone destaca é a reação da sociedade civil em luta por seus direitos assegurados pela Constituição e que estiveram em risco nos últimos anos”, ressaltou Digo Amazonas, do Megafone Ativismo.
Para o ativista do coletivo Guardiões do Bem Viver, premiações como essa são um reconhecimento das lutas de quem é invisibilizado.
“As nossas vozes enquanto juventude que luta por defesa dos povos da floresta, pelas águas e pelos rios foram ouvidas. Premiações como essa mostram pras pessoas de outros lugares que tem gente nessa região e que ativismo não se faz só através de tecnologia. Ele pode ser feito também nessas regiões. O prêmio trouxe esse fortalecimento para nós.”
A categoria conquistada pelos jovens do PAE Lago Grande destaca ações ativistas presenciais e diretas, ou seja, que ocupam algum espaço para uma denúncia ou para impedir uma injustiça, por exemplo. Mais da metade (60%) dos finalistas foram das regiões Norte e Nordeste.
De acordo com Marlon, uma das preocupações do coletivo é levar o debate sobre mudanças climáticas para dentro das comunidades através de uma linguagem popular.
“A gente já não pode mais tomar banho meio dia, por exemplo, temos que esperar anoitecer para a água estar mais fria. A quentura é imensa por conta do desmatamento. O plantio não é mais como era antes, ninguém mais sabe o tempo certo de colher, plantar e queimar. E tem pessoas que ainda acham que se chove hoje e amanhã está quente tudo está normal, mas não está. Por isso a gente quer trazer esse debate para dentro das comunidades e falar do que está acontecendo dentro do nosso território’’, finalizou.
Confira todos as inciativas premiadas pelo Megafone de Ativismo aqui.