O Brasil precisa instalar, pelo menos, um volume de mais de 12 milhões de equipamentos, entre painéis solares e baterias para levar luz a toda a Amazônia, onde, atualmente, 990 mil pessoas vivem sem acesso à energia elétrica.
O número faz parte do estudo “Sistemas Fotovoltaicos na Amazônia Legal: avaliação e proposição de políticas públicas de universalização de energia elétrica e logística reversa”, lançado pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), nesta quinta-feira, 4.
De acordo com o levantamento, para atender às metas de universalização do Programa Mais Luz para a Amazônia (MLA), é preciso levar energia elétrica para quase 220 mil moradias, escolas ou postos de saúde não conectados ao sistema integrado nacional. É fundamental incluir no esforço, diz o estudo, um sistema de coleta de resíduos, hoje quase inexistente.
O Pará é o estado onde há mais unidades consumidoras a serem atendidas e precisaria de 154.833 aparelhos.
“A justa garantia de acesso à eletricidade para comunidades remotas da Amazônia, dependendo da velocidade a ser dada ao processo, exigirá um fornecimento contínuo e estável de componentes para sistemas de geração (painéis, baterias, etc.) e os serviços associados. Além disso, a futura reposição desses sistemas deve ser feita de forma adequada, a fim de evitar riscos ambientais em áreas sensíveis”, destaca André Luis Ferreira, diretor-presidente do IEMA.
Gestão de resíduos
Para que o MLA seja realizado de forma a gerar menos impacto local, visto que os componentes têm vida útil limitada e as baterias podem poluir o meio ambiente ou serem inflamáveis, o estudo buscou mostrar a dimensão necessária para atender as pessoas e a logística reversa que precisa ser elaborada.
No final da vida útil dos sistemas instalados, seriam produzidas entre 71 mil e 237 mil toneladas de resíduos. Os estados do Acre, Amapá e Amazonas gerariam a menor quantidade anual por habitante. Mato Grosso, Rondônia e Tocantins, por sua vez, seriam os maiores geradores.
O Pará teria 2,2 kg/hab/ano de materiais remanescentes com sistemas SIGFI 45 com bateria de íon-de-lítio. Para o sistema SIGFI 180 com bateria de chumbo-ácido, esse valor aumentaria para 7,3 kg/hab/ano.
Em sistemas isolados da rede de energia elétrica, as baterias são necessárias para estocar a energia solar para uso em momentos posteriores. No estudo, foram avaliados dois tipos: chumbo-ácido, já empregada pelo mercado e com preço acessível; e íon-lítio, mais eficiente, porém exige maior cuidado ao manusear e ainda falta ser adequadamente regulamentada pela política de resíduos sólidos brasileira.
Os componentes residuais das baterias de íon-lítio para atendimento das unidades consumidoras podem chegar entre 37 mil e 61 mil toneladas. Já as baterias de chumbo-ácido podem produzir 90 mil toneladas de resíduos no sistema de 45 kWh e mais de 110 mil toneladas no sistema de 180 kWh.
“A transição energética justa, tão discutida atualmente, passa pela inclusão energética tanto em centros urbanos periféricos quanto em áreas ambientalmente sensíveis, como a Amazônia. Nesse sentido, o abastecimento à população ainda sem acesso a esse serviço deve vir necessariamente acompanhado de políticas públicas capazes de integrar os desafios de recursos e governança para evitar que o problema atual da falta de luz não seja substituído por outro problema de acúmulo de resíduos no futuro ”, analisa Ricardo Baitelo, gerente de projetos do IEMA.
Logística e falta de informações
Garantir o efetivo gerenciamento da instalação e retirada de materiais remanescentes dessas regiões remotas requer uma cadeia estruturada. Hoje em dia, mais de 90% dos principais equipamentos dos sistemas fotovoltaicos são importados e a indústria existente está concentrada nas regiões Sudeste e Sul do país. Ainda é reduzido o número de empresas integradoras na Região Norte.
Por fim, faltam informações dos sistemas off-grid, que não são conectados à rede da distribuidora de energia elétrica, instalados e operantes no Brasil.
“Dados e informações consolidados são essenciais para qualquer política pública. A falta desses dificulta a medição, o monitoramento e o seu planejamento e execução efetiva como metas, alocação de recursos e mecanismos de gestão para garantir a sustentabilidade de longo prazo. É o caso dos programas de eletrificação, que exigem um ciclo completo de atendimento, desde a identificação e localização das pessoas sem acesso à energia elétrica até a destinação dos resíduos gerados”, explica Vinicius Silva, um dos autores do estudo.
Veja a pesquisa completa aqui.