Há dez anos o professor Allan Klynger da Silva Lobato, da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), no Pará, pesquisa o uso de esteroides nas plantas. De acordo com o pesquisador, elas produzem naturalmente os chamados brassinosteroides, que atuam na regulação do desenvolvimento e crescimento. As informações são Portal Amazônia.
“Essas moléculas são produzidas nos vegetais em baixa concentração e as recentes pesquisas vem revelando que a aplicação externa, por pulverização, pode trazer vários benefícios para os vegetais. Apesar de haver limitada literatura disponível sobre os mecanismos de ação destas moléculas, nas plantas os brassinosteroides estimulam o metabolismo do vegetal, trazendo benefícios inclusive sobre a fotossíntese, melhorando o crescimento, floração e produção”, explica.
Se a gente fosse fazer uma comparação em humanos, para aumentar a resistência física, a massa muscular e acelerar o metabolismo, os usos de hormônios e corticoides já são feitos na medicina e na veterinária. Nas plantas, o uso de esteroides teriam um efeito parecido.
Açaizeiros
Segundo o professor Allan Klynger, as mudas de açaizeiros estão suscetíveis a pragas e doenças, entre elas a doença chamada antracnose. Ele explica que a antracnose é causada por várias espécies de Colletotrichum spp., fungos que causam prejuízos em várias espécies de importância econômica, principalmente em regiões de clima tropical. Entre essas espécies estão as palmeiras do gênero Euterpe, como a Euterpe oleracea, nome científico do açaizeiro.
“Perdas de 70% de mudas de açaizeiro em viveiro têm sido atribuídas à infecção por Colletotrichum spp. A medida que vão se expandindo os plantios comerciais de açaí, a antracnose pode vir a ser um grande problema fitossanitário limitante à produção, por isso são necessárias pesquisas sobre alternativas para o combate e manejo da doença”, afirma.
É aí que entra a pesquisa com os brassinosteroides.
“Condições ambientais como umidade e temperatura elevadas, características que são comuns na região Amazônica e em ambiente de viveiros, são altamente favoráveis para o crescimento do fungo e desenvolvimento da doença. A nossa pesquisa vai investigar a atuação dos brassinosteróides em plantas de açaizeiro expostas ao fungo, e revelar o comportamento do açaizeiro submetido ao fungo e identificar quais os possíveis benefícios provocados pelos brassinosteróides”,diz o professor.
Segurança alimentar
O açaí é fonte de segurança alimentar de muitos povos amazônicos. De sua polpa são feitos outros produtos, como sorvetes, licores, doces, néctares e geleias, além da extração de corantes e antocianinas.
O Estado do Pará é o maior produtor nacional de açaí, com um volume anual de 1.389.000 toneladas de frutos, o que representa 94,03% da produção nacional, segundo dados do último Panorama agrícola divulgado pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (SEDAP).
“É uma cultura extremamente importante para o desenvolvimento regional e importante fonte de renda para agricultores familiares, especialmente para as populações ribeirinhas. Cerca de 60 a 70% da renda anual de famílias ribeirinhas é obtida pela comercialização do açaí”, elogia o pesquisador
Brassinosteroides
Além da pesquisa para verificar o aumento na resistência a pragas e doenças, as pesquisas com brassinosteroides têm mostrado resultados positivos na defesa antioxidante, maquinário fotossintético e estruturas anatômicas essências para melhorar a resiliência contra estresses ambientais.
Um desses brassinosteroides com ações relevantes sobre o metabolismo vegetal é o 24-epibrassinolídeo, uma molécula que possui múltiplas vantagens, é ecologicamente amigável, natural, biodegradável e usada em nanoconcentrações. Ele já foi testado pelo grupo de pesquisa da Ufra ao longo dos anos e os resultados já foram publicados em revistas internacionais.
Os testes já realizados incluem culturas como a soja, o arroz, o tomate, o feijão-caupi e o eucalipto. Na prática, o uso dos brassinosteroides acelera o ciclo, fazendo com que o agricultor possa plantar e colher em menor tempo, já que as plantas podem produzir mais flores, mais frutos ou grãos, além de melhorar as estruturas anatômicas da folha e raiz, resultando em maiores taxas de fotossíntese.