Em 2018, os crimes ambientais se tornaram a terceira economia ilícita mais lucrativa do mundo, só perdendo para o tráfico de drogas e o contrabando. Com lucros que podem chegar a US$ 281 bilhões, anualmente, o impacto dessas atividades ilegais na tripla crise planetária formada pelas mudanças climáticas, poluição e perda de biodiversidade reforça a importância do desenvolvimento de estratégias eficazes de combate aos crimes ambientais. Para isso, se aprofundar nas dinâmicas dos elos entre os fluxos financeiros ilícitos e os crimes ambientais, especialmente na Bacia Amazônica, é fundamental
O estudo “Siga o dinheiro: conectando sistemas de proteção contra a lavagem de dinheiro para combater a prática de crime ambiental na Amazônia” é, nesse sentido, uma importante contribuição, ao apontar a necessidade de os sistemas, órgãos e instituições responsáveis por prevenir a lavagem de dinheiro voltarem a atenção para as conexões dessa prática ilícita aos crimes ambientais.
A publicação mostra que o ciclo da lavagem de dinheiro segue três etapas até que os recursos lavados possam seguir para o sistema financeiro: inserção, ocultação e integração. No entanto, nem todos os recursos provenientes da atividade criminosa são lavados diretamente no sistema financeiro formal. Assim, a diversificação informal constitui o processo de movimentar os fluxos ilegais para dentro da economia informal.
Estima-se que 30% do dinheiro a ser lavado seja usado para pagar as despesas de operação das economias ilícitas. Transações com dinheiro em espécie, divididas em valores pequenos e depositadas por “mulas monetárias”, são usadas para financiar a contratação de mão de obra precária, acomodações, alimentação, segurança, transporte, serviços de saúde, lazer e maquinário, por exemplo. Os 70% que restam dos recursos ilícitos são inseridos formalmente no sistema financeiro.
Governos perdem bilhões de dólares
O estudo relembra, ainda, que o Banco Mundial estimou, em 2019, que os governos perdem entre US$ 6 e 9 bilhões em receitas fiscais todos os anos devido à exploração ilegal de madeira. Da mesma forma, outros crimes ambientais como a mineração ilegal, principalmente a de ouro e diamantes, gera entre US$ 12 e 48 bilhões de em rendimentos.
Em 2018, o Atlas Mundial de Fluxos Ilícitos da Interpol apurou que a extração ilegal de madeira correspondia a um percentual entre 15% e 30% do comércio global de madeira, calculado entre US$51 bilhões e US$ 152 bilhões de por ano. A indústria da exploração ilegal de madeira é responsável por até 90% do desmatamento da floresta tropical em países africanos como a República Democrática do Congo.
O combate aos fluxos financeiros ilícitos é uma poderosa ferramenta para o desmantelamento das economias ilegais. Isso torna-se ainda mais relevante quando se identifica que a lavagem de dinheiro alimenta um ecossistema de criminalidade ambiental composto por uma convergência de crimes ambientais e não ambientais, como corrupção, estelionato, evasão fiscal entre outros.
Fonte: Instituto Igarapé