Você sabia que existe uma relação direta entre o desmatamento e o baixo desenvolvimento da Amazônia? É o que mostra um estudo, conduzido pelo Imazon, que apontou que os municípios que mais destruíram a floresta nos últimos três anos também apresentaram os piores desempenhos sociais.
O Índice de Progresso Social (IPS) de 2023 chegou a essa conclusão após analisar 47 indicadores de qualidade de vida nas áreas de saúde, educação, segurança e moradia.
Entre os 29 territórios com as notas mais altas no IPS (acima de 61,80), o desmatamento médio foi de 20 km² entre 2020 e 2022, de acordo com dados do Projeto Prodes (Inpe). Por outro lado, os 89 municípios com as avaliações mais baixas (abaixo de 50,12) desmataram uma média de 86 km² nesse mesmo período, mais de quatro vezes a quantidade dos territórios com notas mais altas.
No Pará, tem os exemplos de contrastes encontrados pelo IPS no desenvolvimento social da Amazônia: Jacareacanga e Faro. Enquanto o primeiro teve a pior avaliação entre os 772 municípios da região (42,43), o segundo conquistou a 23ª melhor nota (62,70).
Localizado no sudoeste paraense, região marcada pela expansão do desmatamento e dos conflitos sociais, Jacareacanga possuía quase 9 mil habitantes e PIB per capita de R$ 63,8 mil em 2019.
Já Faro, um dos municípios mais florestados da Amazônia, situado no norte do estado, na região do Baixo Amazonas, continha cerca de 7 mil habitantes e um PIB per capita de apenas R$ 8,1 mil no mesmo ano.
“Faro é a única cidade com menos de 10 mil habitantes entre as 29 melhores colocadas no IPS. Embora tenha um baixo PIB per capita, o município consegue entregar um melhor resultado social, principalmente devido a um bom desempenho em segurança pública”, comenta Beto Veríssimo, cofundador do Imazon e coordenador da pesquisa.
Outro exemplo paraense representativo dessas notas baixas é o município de São Félix do Xingu, localizado no sul do Pará, que devastou mais de 1,7 mil km² de floresta no período analisado e obteve um IPS de apenas 52,56.
Amazônia
Em 2020, por exemplo, a Amazônia foi responsável por cerca de 52% das emissões de gases de efeito estufa do Brasil, mas contribuiu com apenas 9% do PIB.
“As curvas de crescimento econômico e desmatamento estão dissociadas. No período de maior queda na taxa de derrubada, entre 2004 e 2012, a economia da Amazônia cresceu. E o contrário ocorreu nos últimos anos, de 2017 a 2022, quando a destruição aumentou e a economia esteve em baixa”, completa Veríssimo.
Em relação ao Brasil, cujo IPS foi de 67,94, a nota da Amazônia em 2023 foi 25% menor (54,32). Já na comparação mundial, se a região fosse um país, o desenvolvimento social amazônico equivaleria ao de Malawi.
Além disso, nenhum dos nove estados da Amazônia Legal superou a média nacional. Mesmo a maior nota, de Mato Grosso (57,38), ainda foi 18% inferior à do Brasil. Os piores resultados foram do Pará (52,68), Acre (52,99) e Roraima (53,19).