Base alimentar de muitas populações amazônidas e uma das maiores riquezas do Estado, o açaí já vê sua
produção e consumo afetados pelas mudanças climáticas. Na comunidade de Pirocaba, no município de Abaetetuba, região do nordeste paraense, produtores e batedores artesanais do fruto já notam queda na oferta e irregularidade no período de safra a cada ano. As informações são do site Amazônia Real.
“Faz uns quatro, cinco anos que começamos a perceber que mudou. Em maio, ainda não tem. Às vezes, o açaí começa a chegar em junho, julho”, conta Daniela Araújo, 34 anos, presidenta da Associação dos Agroextrativista, Pescadores e Artesãos de Pirocaba (Asapap).
Diomar Araújo, 53 anos, pai de Daniela, atua no extrativismo do açaí desde os 12 anos e endossa a observação.
“Todos esses anos da minha vida e eu nunca tinha visto nada parecido com isso, o açaí cai verde do talo e não presta mais para nada. Fica tudo aí no chão”, diz.
Relatos semelhantes a esses são cada vez mais comuns em diversas comunidades que dependem dos recursos naturais para se alimentar e gerar renda. O segundo volume do Sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), lançado em 2021, mostra que a alimentação é uma das áreas mais vulneráveis às transformações que o planeta vem passando. O estudo afirma que a menor produtividade de setores como a agricultura e a pesca podem acarretar, por exemplo em aumento da insegurança alimentar e da pobreza entre as populações tradicionais.
Alerta
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) define insegurança alimentar como o estado em que se tem o mínimo para comer ou que há é de pouco valor nutricional sem diversidade de escolha. De acordo com o IPCC, esse problema é agravado pela crise climática e tende a crescer tanto em cidades quanto
em comunidades rurais, onde a degradação ambiental reduz a oferta de recursos vindos das florestas e das águas.
Em Abaetetuba, que é banhado por um afluente do rio Tocantins, as alterações teriam se intensificado nas últimas décadas, após a implantação da Usina Hidrelétrica de Tucuruí e de empreendimentos industriais em Vila do Conde, no município vizinho de Barcarena.
“Aí foi o começo dos nossos problemas. O peixe sumiu e a poluição de Vila do Conde começou a chegar aqui nas comunidades. Isso também afetou a nossa produção”, relata Diomar.
Daniela teme que as mudanças climáticas agravem a situação.
“O nosso medo aqui é que isso contribua ainda mais para a crise que a gente já está vivendo. Se a gente perde a nossa fonte de alimento, se o território começa a ser impactado, o que vai ser da comunidade nos próximos anos?”, completa.