Por Fabrício Queiroz
A realização do Diálogos Amazônicos nesta semana e dos demais eventos preparatórios para a 30ª Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que ocorrerá em Belém em 2025, devem gerar oportunidades para evidenciar o protagonismo das populações amazônidas no debate ambiental. Esse é o anseio de coletivos como o Grupo de Mulheres Brasileiras (GMB), que busca ampliar a visibilidade feminina nesta agenda.
Veterana na luta feminista na região, a pedagoga Domingas Martins, de 70 anos, avalia que é preciso compreender os impactos e propor soluções para a crise do clima, levando em conta a perspectiva dos povos locais, em especial das mulheres.
“Queremos estar à frente desses debates porque a defesa da Amazônia e a questão climática é algo que nos destrói também. Falamos principalmente das mulheres ribeirinhas e quilombolas que têm suas vidas ligadas diretamente às águas e às florestas. Mas isso é algo que afeta a todas. A poluição do ar e do meio ambiente é uma realidade cada vez maior nos territórios”, comenta Domingas que é coordenadora e uma das fundadoras do GMB.
Sobre o papel protagonista das mulheres, ela complementa.
“Na Amazônia, a maioria das mulheres são chefes de família, não têm nem casa para morar porque falta uma política de habitação. Muitas vivem de ‘bicos’ e não têm nem creches para deixar as crianças e poderem procurar trabalho. Infelizmente, a maior participação da mulher no mercado de trabalho veio sem acesso à formação e ao estudo. A gente quer políticas que mudem essa realidade e garantam melhorias na qualidade de vida para todas”.
Para ela, que ingressou no movimento social aos 17 anos, a luta das mulheres tem avançado na região em virtude do fortalecimento e do apoio que há nas articulações entre entidades locais, nacionais e globais. Um exemplo disso deve ser notado durante as programações do Diálogos Amazônicos, que contarão com atividades em que se valoriza tanto o coletivo quanto as especificidades de grupos, como as indígenas, as negras, as mulheres do campo e outras.
Alguns desses eventos incluem a plenária “Mulheres da Panamazônia – Direitos, Corpos e Territórios por Justiça Socioambiental e Climática”, que ocorre no dia 4, às 13h; o debate sobre “Olhares das Mulheres de Povos e Comunidades Tradicionais Sobre o Uso, Manejo, Conservação e Proteção dos Territórios Tradicionais”, que será realizado no dia 5, às 10h; e a plenária “Mulheres Defensoras da Amazônia na Luta por Justiça Climática”, agendada para o dia 6, às 12h. Confira a agenda completa de atividade auto-organizadas clicando aqui.
Diante disso, Domingas destaca que observa um cenário positivo para que as mulheres amazônidas ocupem mais espaços como esse. “A nossa ideia é não só falar disso, mas também elaborar um documento dizendo o que nós queremos para cada categoria de mulher”, pontua a liderança.