Por Fabrício Queiroz
A média das emissões de gás carbônico (CO²) pela Amazônia aumentou 122% em 2019 e 2020, em comparação com a média de 2010 a 2018, segundo um estudo elaborado por um grupo de 30 pesquisadores brasileiros e publicado na revista científica “Nature”.
A publicação mostra que os 0,24 bilhões de toneladas de carbono registrados entre 2010 e 2018 saltaram, em 2019, para 0,44 bilhões de toneladas de CO², um aumento de 89%, e para 0,52 bilhões de toneladas, em 2020 (122%).
“Não é que absorveu menos carbono, é que o desmatamento aumentou”, disse a pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e primeira autora do artigo, Luciana Gatti.
Na avaliação dos cientistas, o crescimento tem relação com a desestruturação dos órgãos e políticas ambientais observados nos últimos anos. Um exemplo disso foi o fim do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), que previa mecanismos de embargo e restrição de acesso a crédito para os envolvidos na devastação da floresta, pelo governo Bolsonaro
Em entrevista coletiva nesta quarta-feira, 23, Gatti demonstrou especial preocupação com a aproximação do ponto de não retorno no lado leste da floresta, que abrange a parte do sul e sudeste do Pará. De acordo com a pesquisadora, nos últimos 40 anos, a temperatura naquela região subiu 3,1º nos meses de agosto e setembro.
“Estou falando da temperatura média entre todas as horas do dia. Imaginem o quanto ela cresceu no meio do dia”, disse a pesquisadora
Para ela, seria necessário decretar estado de emergência nessa região e implementar planos de restauração florestal e de desmatamento zero.
“Essa área da Amazônia está perto do ponto de não retorno e depois que chegar, será uma bola de neve. Se não temos muitos recursos, a área prioritária é ali no sudeste da Amazônia”, sugeriu.
Para realização da pesquisa foram coletadas amostras de CO² em 742 voos sobre quatro localidades da Amazônia e a análise desse material em laboratório. Além disso, foram produzidos mapas para a comparação da diferença do desmatamento em 2019 e 2020 com o período de 2010 a 2018.
Com base nisso, chegou-se a dados que demonstram a curva distinta da devastação versus as ações de comando e controle. O aumento da área queimada subiu 14% em 2019 e 42% em 2020, por exemplo. Já os órgãos ambientais expediram menos 30% de multas 30% em 2019 e menos 54% em 2020. Além disso, os pagamentos das multas reduziram em 74% e 89%, respectivamente.
“Havia uma série de ferramentas para combater o desmatamento que foram retiradas e a gente vê claramente a relação entre a subida do desmatamento e a redução das multas”, analisou a pesquisadora.
O impacto disso pode ser notado no aumento das emissões de carbono pela Amazônia em nível comparado aos anos de 2015 e 2016, quando a seca provocada pelo fenômeno El Niño contribuiu para a disseminação de queimadas e a perda florestal.
No período analisado (2019 e 2020), o evento climático não ocorreu, por isso os pesquisadores afirmam que o crescimento das emissões está relacionado à ação humana.
“Isso quer dizer que foram as atividades humanas que emitiram muito mais carbono do que a floresta é capaz de remover de carbono”, explica Gatti.
A pesquisadora trabalha com a hipótese de que a principal atividade envolvida seria a extração ilegal de madeira impulsionada pelo avanço do desmatamento na porção oeste da Amazônia. No período analisado, a pesquisa aponta que houve aumento de 700% na exportação de madeira.