Em 38 anos, a Amazônia perdeu 52 milhões de hectares de vegetação nativa, uma área equivalente a França. No Brasil, foram 96 milhões de hectares (duas Alemanhas e meia) perdidos, entre 1985 e 2022. Os dados são de um novo estudo do MapBiomas, divulgado nesta quinta-feira, 31. A proporção de vegetação nativa no território brasileiro diminuiu de 75% para 64%, no período.
De acordo com o levantamento, em contrapartida, a agropecuária avançou em todos os biomas brasileiros no período, exceto na Mata Atlântica. A área ocupada pela agropecuária na Amazônia aumentou de 3% para 16%.
No Pará, a área de vegetação nativa caiu de 93% para 77%, no período analisado, enquanto a área de pastagem cresceu quatro vezes, de 4% para 18%.
Em todo o Brasil, a área ocupada por atividades agropecuárias passou de cerca de um quinto (22%) para um terço (33%) do Brasil. As pastagens avançaram sobre 61,4 milhões de hectares entre 1985 e 2022; a agricultura, sobre 41,9 milhões de hectares.
As imagens de satélite mostram relação forte da dinâmica de ocupação de solo de agricultura e de pecuária. Entre 1985 e 2022, 72,7% dos 37 milhões de hectares do crescimento da área de agricultura no Brasil se deram sobre áreas já “antropizadas” (ou seja, que tiveram suas características originais alteradas), especialmente pastagens.
Apenas 27,3% das áreas convertidas para lavoura temporária são provenientes de vegetação nativa, com destaque para o Pampa, a fronteira da Amazônia com Cerrado e a região do Matopiba.
Um Rio de Janeiro virou pastagem
No caso da pastagem, a situação é oposta: mais da metade (55,8%) das áreas convertidas para pasto são provenientes de vegetação nativa. Foram 64 milhões de hectares de vegetação nativa convertidas para pastagens. Outros 5,4 milhões de hectares (mais do que o estado do Rio de Janeiro) foram convertidos de vegetação nativa para pastagem e depois para agricultura.
O avanço da agropecuária se deu prioritariamente sobre áreas de floresta. De todas as classes de vegetação nativa analisadas pelo MapBiomas, a formação florestal foi a que mais perdeu em área: 58,6 milhões de hectares foram suprimidos no período.
Se em 1985 as formações florestais respondiam por 68% do território nacional, em 2022 esse percentual caiu para 58%.
O levantamento também revela a consolidação de dois novos focos de desmatamento: o Arco do Desmatamento Amacro, na região amazônica, e o Arco do Desmatamento Matopiba, no Cerrado.
Código Florestal
A perda de vegetação nativa no Brasil nos últimos 10 anos coincide com a implementação do novo Código Florestal aprovado pelo Congresso em 2012, que tem o objetivo de proteger o meio ambiente e o compromisso de eliminar o desmatamento.
Os dados de imagens de satélite mostram que nos cinco anos anteriores à aprovação do Código Florestal (2008-2012), ocorreu uma perda de 5,8 milhões de hectares. Nos cinco anos seguintes após a aprovação do código (2013-2018), essa perda aumentou para 8 milhões de hectares. De 2018-2022, o estrago foi ainda maior foram perdidos 12,8 milhões de hectares, um aumento de 120% em relação ao período de 2008-2012.