O impacto da crise ambiental que o mundo vivencia tende a ser desastroso a longo prazo. O aumento da temperatura na Amazônia em até 10º C nos próximos 50 anos é apenas uma das faces de um conjunto de situações críticas. As pesquisas desenvolvidas pelo Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia (LBA) mostram que, por exemplo, as transformações em curso refletem na diminuição do índice de chuvas e, por consequência, no nível de vazão dos rios.
Em entrevista ao Pará Terra Boa, o gerente científico do LBA e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Bruce Fosberg salientou que os cursos d’água mais afetados devem ser os localizados na porção sul da Amazônia.
“Essa queda de precipitação está afetando a vazão dos rios. Já se vê nos rios do sul da Amazônia, como o Juruá, o Purus, o Madeira, o Tapajós, o Xingu e o Tocantins, que já está começando a diminuir a vazão desses rios, aumentando o período seco. A tendência é que daqui até 50 anos, vai ser de reduzir em torno de 30% a 50%”, diz Bruce, que se dedica a estudos sobre os ecossistemas fluviais tropicais.
Para ele, as repercussões desse fenômeno são diversas, já que a dinâmica das águas está intimamente ligada ao modo de vida das populações ribeirinhas e pesqueiras, mas também é crucial para a produção agrícola brasileira e para os projetos que visam o fornecimento de energia elétrica para o país.
“Existem planos para se fazer hidrelétricas no Rio Tapajós. Nesse cenário, isso não vai ser economicamente viável, se continuar a queda na precipitação nessas regiões”, acrescenta.
O pesquisador lembra que há projetos para a implantação de hidrelétricas na parte peruana da Amazônia, porém esse tipo de intervenção também é desaconselhado, pois pode afetar as regiões e as populações que vivem na foz do Rio Amazonas. Isso porque, com esses empreendimentos, diminuiria o fluxo de sedimentos para o baixo Amazonas, as várzeas e a área costeira.
Fosberg acredita que o conhecimento acumulado pelo LBA ao longo dos últimos 25 anos demonstra a gravidade das mudanças climáticas e seus impactos de longo prazo, por isso é preciso que medidas de mitigação e adaptação sejam implementadas.
“Estamos em um momento em que se está acelerando as mudanças climáticas na região e a gente precisa fazer tudo que a gente pode para manter a floresta de pé, reflorestar as áreas que já foram desmatadas e reduzir as emissões de gases do efeito estufa para estabilizar essa situação”, defende o cientista.
Por Fabrício Queiroz