Registros históricos estimam que o homem consome mel há aproximadamente 10 mil anos. Apreciado como alimento, como ingrediente de algumas receitas e por suas propriedades medicinais, o mel de abelha também é capaz de promover a conservação ambiental e o desenvolvimento econômico nas comunidades extrativas. É esse produto que está na origem de um processo de transformação para a vida do apicultor e meliponicultor Yuri Pereira.
Formado em arquitetura, Yuri se encantou pela atividade há cerca de sete anos. A curiosidade o levou a buscar formações e logo o que começou como um hobby ganhou um perfil profissional.
Ainda em 2016, ele comprou algumas abelhas do tipo uruçu de um produtor do município de Tracuateua e aceitou o desafio de tentar vender uma parte daqueles méis. Depois, apostou na colaboração como estratégia para ter uma produção própria.
A estratégia foi a seguinte: Yuri recrutou alguns moradores da região para atuarem como meliponicultores, ofereceu treinamento e a estrutura necessária para a criação. Deu certo.
Hoje, quando chega o período da safra – que geralmente se estende de outubro a janeiro -, eles colhem juntos e, em seguida, Yuri adquire toda produção.
A responsabilidade pela divulgação e comercialização é do empreendedor que mantém a loja online Nativas do Pará, em que grande parte dos consumidores é de fora do estado. Um dos atrativos é a venda de mel e cera de abelhas silvestres sem ferrão do gênero melípona; daí o nome meliponicultora.
Apicultura e meliponicultura: confira a diferença
A apicultura, por sua vez, é desenvolvida com os méis produzidos pelas abelhas do gênero apis, que possuem ferrão. Apesar de ser mais conhecida, Yuri avalia que a apicultura vive atualmente um momento de baixa e de desvalorização. Já a meliponicultora tem se destacado pelo reconhecimento do diferencial que a interação dos animais com as florestas traz para o produto.
“A cada ano a atividade de meliponicultura vem crescendo e o potencial é muito grande, visto que a maioria da população desconhece a atividade e a existência das nossas abelhas nativas do Brasil. E, quando a pessoa conhece, a paixão é quase imediata”, afirma Yuri Pereira.
Outro diferencial do trabalho de Yuri é a aposta no impacto social e ambiental positivos que a extração de méis pode trazer, em especial para as áreas de mangue, onde os insetos ocorrem naturalmente.
“O que eu faço é levar renda extra para pessoas que têm poucas opções financeiras, e ajudo a manter as matas da região, pois, sem mata, não tem produção e não tem renda. O valor agregado é a conservação da vegetação local. O recruta meliponicultor passa a ser um protetor da mata e das abelhas”, resume Yuri Pereira.
Atualmente, ele conta com 15 parceiros em comunidades de Tracuateua e São Caetano de Odivelas, no nordeste paraense, e há planos para implantação de uma unidade de extração e beneficiamento artesanal de mel de abelha na região.
“Com isso, pretendo aumentar o número de parcerias para o aumento da produção. A meta é conseguir colocar nosso mel no maior número possível de estabelecimentos comerciais. E se possível, quem sabe a exportação”, vislumbra o produtor.
Por Fabrício Queiroz