Não bastasse a forte desvalorização da arroba do boi gordo registrada nos últimos meses, o pecuarista brasileiro também lida com a ameaça de queda na produtividade causada pelo estresse térmico do gado, que se acentua pela ocorrência do El Niño 2023/2024. Redução de pastagem, suscetibilidade a doenças e queda da fertilidade são alguns dos desafios que devem ser superados para garantir melhora nas margens de lucro.
Embora o clima seja incontrolável, ações voltadas ao bem-estar animal podem ser tomadas para ajudar a reverter este cenário. Os médicos veterinários Nilton Mesquita e Ana Bezerra explicam que adaptações no sistema de produção, com medidas preventivas apropriadas para o gerenciamento e o planejamento adequados antes do início do aumento da temperatura são fundamentais.
“O produtor tem que se antecipar a esses fatores. Isso não é uma novidade no campo. Quem começou a pensar nisso só agora, já está atrasado. Estamos falando de práticas simples de organização, como sombreamento e disponibilização de pontos de água, que devem ser mensuradas com um ano de antecedência”, diz Mesquita, que é gerente de relações institucionais da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat).
Medidas preventivas
Representante da Associação Pantaneira de Pecuária Orgânica e Sustentável (ABPO), de Campo Grande (MS), Ana também destaca a necessidade de sombra natural ou artificial para reduzir a insolação e a temperatura dos bovinos. Desta forma, é possível instalar sistemas de resfriamento, como ventiladores e aspersores de água, ou de aquecimento em confinamentos para manter a temperatura ideal no ambiente.
“Outros recursos emergenciais também podem ser utilizados como colocação de sombrites onde não exista nada de arborização, para que os animais se abriguem do sol. Lembrando que isso é para emergências, já que nas propriedades você pode direcionar esses animais para áreas com uma melhor condição ambiental, com árvores”, explica ela.
ILPF
A introdução de árvores em sistemas pecuários é uma opção viável para melhorar o bem-estar animal e manter sua capacidade reprodutiva regular. Uma das alternativas apontadas pela Embrapa Pecuária é a adoção de sistemas integrados, como Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF).
Além de outros benefícios já mostrados pelo Gigante 163, a estratégia garante sombra e favorece a redução da temperatura corporal do gado. Esse efeito é mais perceptível na primavera e verão, e nos períodos mais quentes do dia.
“Esses projetos são bem interessantes tanto para hipertermia como para hipotermia, porque as árvores servem de abrigo nas duas situações. Há um vasto material disponível sobre isso, então, por meio de informação e tecnologia é que o produtor pode trazer rentabilidade ao seu negócio”, conclui Ana.
Fonte: André Garcia/ Gigante 163