Mais de 2 milhões de pessoas devem tomar as ruas de Belém neste domingo, 8, com a realização do 231º Círio de Nazaré. O cortejo é marcado por símbolos de muita representatividade e inúmeras demonstrações de fé, mas a história mostra que até a lembrança do caminho das romarias pode ser carregado de riqueza. O Pará Terra Boa selecionou alguns fatos interessantes relacionados à Grande Procissão. Confira!
O achado da imagem e o retorno
A devoção em Nossa Senhora de Nazaré tem uma longa história, principalmente em Portugal, mas no Pará a crença teria ganhado força somente em 1700, quando o caboclo Plácido José dos Santos teria encontrado a imagem da santa entre pedras às margens do igarapé Murutucu.
Segundo a lenda, Plácido levou a imagem para casa, mas no dia seguinte ela teria desaparecido e sido reencontrada no mesmo local. O fenômeno teria ocorrido várias vezes até que o governador da época tentou intervir e mandou guardar a santa em uma capela do palácio. Ainda assim, a imagem retornava ao local de origem.
Foi então que Plácido decidiu construir próximo ao igarapé uma ermida, que posteriormente foi substituída pela Basílica Santuário. As procissões do Círio seriam uma representação do milagre e do movimento de ida e vinda da padroeira.
Um percurso diferente
As primeiras edições do Círio de Nazaré contaram com um trajeto bem diferente do atual. Ao invés de sair da Catedral da Sé e seguir até a Basílica Santuário, os registros históricos indicam que o ponto de partida foi um pouco mais adiante, na capela do antigo Palácio do Governo (atual Museu de Arte do Estado), no bairro da Cidade Velha.
A razão para isso é que a procissão surgiu por iniciativa do então presidente da província Márcio de Sousa Coutinho. Em junho de 1793, ele adoeceu e prometeu levar a imagem do palácio até uma pequena igreja dedicada à santa, caso fosse curado. Recuperado, Coutinho cumpriu a promessa e conduziu a imagem da sede do governo até a ermida que existia onde hoje é a Basílica.
O percurso atual só foi instituído em 1882, mas ainda assim outros trajetos foram adotados em ocasiões especiais. Em 1891, o Círio saiu da Igreja de Santo Alexandre; e em 1973, foi utilizada novamente a capela do palácio do governo.
As datas e horários
Outro fato curioso em relação ao Círio da atualidade é que nem sempre a procissão foi realizada no segundo domingo de outubro. Durante muito tempo não houve data certa para a festividade, que podia ocorrer em setembro, outubro ou novembro. A primeira romaria, por exemplo, foi realizada em 8 de setembro de 1793.
Além disso, ao longo de 60 anos, o Círio foi vespertino e costumava avançar pela noite e até enfrentar chuvas. Somente em 1854 é que foi definido o horário matinal. Já o segundo domingo de outubro passou a ser dedicado à Nossa Senhora de Nazaré a partir de 1901.
A Cobra-Grande
Assim como em outras regiões da Amazônia, a lenda da Cobra-Grande, também conhecida como boiuna ou cobra norato, faz parte do imaginário da população de Belém e ocupa um papel na história da devoção.
Os relatos dão conta que o trajeto do Círio é habitado pela entidade adormecida, cuja cabeça estaria sob a Catedral da Sé e o final de sua cauda estaria embaixo da Basílica. A crença popular ainda vai além e diz que a cobra se mexe eventualmente e seria responsável por alguns tremores de terra registrados em Belém.
Há ainda o temor de que boiuna irá despertar caso o Círio não seja realizado. Seja pela fé em Nossa Senhora (ou pela crença na Cobra-Grande), vale lembrar que mesmo durante a pandemia, milhares de devotos realizaram a caminhada de fé entre a Sé e a Basílica.
Por Fabrício Queiroz