Alimentos como macaxeira, feijão, feijão-caupi, batata-doce e milho costumam estar na mesa dos brasileiros. A ampla aceitação e consumo fez esses produtos entrarem no radar de pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que desenvolvem com eles o processo da bofortificação. O resultado são cultivares que fomentam a agricultura familiar e também ajudam na promoção de uma estratégia de segurança alimentar e nutricional. E ainda são produzidos livres de agrotóxicos.
A iniciativa é da Rede BioFort que atua com melhoramento genético de espécies com o objetivo de encontrar variedades mais ricas em zinco, ferro e próvitamina A. O foco nesses elementos se deve ao fato de que a carência deles está diretamente relacionada ao aumento de doenças e à chamada fome oculta, que é quando se ingere alimentos, mas não se absorve os nutrientes necessários para manter o organismo saudável.
Desde 2002, o grupo trabalha com oito espécies básicas do cardápio da população e chegou a 14 cultivares com melhores teores nutricionais. Entre elas estão três cultivares de macaxeira – BRS Jari, BRS Gema de Ovo e BRS Dourado -, que se destacam pela polpa mais amarela e com maior concentração de carotenoides.
Outro exemplo é a batata-doce BRS Beauregard, cujo diferencial é a polpa alaranjada, onde são encontrados 10 vezes mais provitamina A do que em outras variedades.
“Não é feito transgenia. Nós trabalhamos com melhoramento genético a partir do cruzamento de variedades da mesma espécie, buscando o potencial máximo dessa cultura com esses nutrientes”, explica Jaime Carvalho, analista de transferência de tecnologia da Embrapa Amazônia Oriental.
Essa foi uma das razões que levaram os produtos biofortificados a ganharem importância na busca pelo cumprimento dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) já reconheceu a contribuição dessa e outras tecnologias brasileiras para o alcance da meta de erradicação da fome.
Biofortificados no Pará
Mas os ganhos dos biofortificados não se limitam ao aspecto nutricional. A estratégia favorece uma produção orgânica, ou seja, sem uso de agrotóxicos e outras substancias agressivas ao meio ambiente. As cultivares apresentam vantagens em termos de resistência a condições adversas, bem como possuem uma produtividade superior a outras variedades.
“O principal diferencial aqui no Pará se dá principalmente na produtividade. Hoje, no Brasil, a produtividade da batata-doce, por exemplo, é em torno de 20 a 22 toneladas por hectare. Aqui no estado do Pará é 30 hectares. Também temos ganhos com precocidade porque a gente consegue colher com 90 a 120 dias, enquanto que as polpas brancas regionais precisam de 180 dias”, ressalta Jaime.
O projeto nacional deveria ter encerrado suas atividades há dois anos, porém o constante interesse das comunidades contribuiu para a continuidade dos estudos que agora visam o desenvolvimento de arroz, trigo e abobora biofortificados. Para Jaime Carvalho, esse esforço demonstra que o trabalho colhe os frutos de boa relação entre tecnologia, informação e extensão rural. “Quando a tecnologia é boa, ela anda sozinha”, afirma.
“Graças a esse trabalho que não parou, o estado do Pará é hoje um dos responsáveis pela continuação do BioFort. A ideia é que seja ainda mais importante por estar posicionado como um dos principais esteios da política de combate à fome”, ressalta o analista.
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Por Fabrício Queiroz