Quinta Conferência das Partes (COP5) da Convenção de Minamata aprovou neste mês novo limite para a concentração de mercúrio em resíduos, medida que cria regras para a exportação e importação de dejetos contaminados. A decisão foi uma das 23 aprovadas na reunião em Genebra, na Suíça, de 30 de outubro a 3 de novembro.
Após sete anos de estudos e análises, os Estados-membros concordaram com “um padrão fixo (…) para medir se [resíduos] importados e exportados contaminados com mercúrio têm concentração total acima do valor total permitido de 15 mg/kg”.
A decisão reconhece os impactos negativos do traslado internacional de dejetos para países em desenvolvimento. Já as nações desenvolvidas passam a ter um marco para bloquear exportações de materiais contaminados que não estejam de acordo com as regras.
Adotada em 2013, a Convenção de Minamata busca regular o ciclo de vida do mercúrio, determinando o fim da produção, importação e exportação de uma série de produtos que contêm o metal. Além de poluir ecossistemas, taxas elevadas da substância são nocivas para a saúde, como risco de danos neurológicos, cardiológicos e pulmonares.
A COP5 aprovou também proposta apresentada pelo Brasil para apoiar a maior participação de povos indígenas e comunidades tradicionais nas reuniões. A medida encoraja a elaboração de políticas públicas que contribuam para a disseminação de informação, conscientização e educação sobre emissões e liberações de mercúrio.
Endossada pelos países da América Latina e do Caribe, pela Austrália e pelo Canadá, a decisão demanda a elaboração de um relatório que deve ser apresentado na próxima COP, prevista para 2025, sobre as necessidades e prioridades dos povos indígenas e comunidades locais. O documento deverá avaliar os efeitos do mercúrio para a saúde, subsistência, cultura e conhecimento dos grupos.
“A forte presença dos povos indígenas nesta COP mostrou a necessidade do seu envolvimento no desenvolvimento do trabalho da Convenção”, afirmou Thaianne Resende, diretora de Qualidade Ambiental do MMA, que representou o ministério na delegação brasileira.
Mineração de ouro
A mineração de ouro artesanal e em pequena escala é a responsável pela maior utilização, emissões e liberações de mercúrio no planeta. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), em 2015 a mineração de ouro artesanal e em pequena escala respondia por 37% do consumo total de mercúrio e 38% de suas emissões antropogênicas.
No início deste ano, um laudo da Polícia Federal indicou que indígenas de 14 regiões na Terra Yanomami, em Roraima, apresentaram altos níveis de contaminação pela substância: 76,7% das pessoas estudadas vivem sob alta exposição do metal pesado. Uma força-tarefa do governo federal conseguiu desde o início do ano reduzir em 80% a área de garimpo ilegal no território Yanomami.
Na semana passada, uma operação do Ibama e da PF de combate ao garimpo ilegal no Vale do Javari, no Amazonas destruiu 26 dragas, oito barcos, quatro rebocadores e 42,5 mil litros de diesel até quinta-feira. Os fiscais também apreenderam nove antenas Starlink e 3,2 kg de mercúrio.
Outra operação conjunta apreendeu aproximadamente 704 kg de mercúrio nos Estados de Mato Grosso e Rio de Janeiro em ação para dearticular a venda ilegal do metal para garimpos na Amazônia. A Justiça decretou o bloqueio de mais de R$ 2,9 bilhões em bens dos investigados para garantir o pagamento por danos ambientais causados.