Por Fabrício Queiroz
Uma coleção de histórias e memórias compõe a trajetória de Belém, que completa 408 anos neste 12 de janeiro. Conquistas, descobertas, acontecimentos, conflitos, booms econômicos e transformações podem ser lembrados para falar em parte dos últimos quatro séculos. Mas uma vida não se faz apenas de passado ou de expectativas para o futuro. O presente tem tanta importância quanto o que passou e o que virá, por isso, no aniversário da cidade, o Pará Terra Boa resolveu ressaltar um lado pouco revelado sobre nossa capital, aquele que estimula e inspirada nossos sentidos.
Para ver
As belezas, as paisagens inspiradoras e os estímulos visuais estão por toda parte em Belém. O encontro da natureza com as construções urbanas presentes em pontos turísticos como o Mangal das Garças são apenas uma face de uma cidade que enche os olhos.
Ao longo de mais de quatro séculos, Belém vivenciou a influência de diferentes estilos e estéticas. Tem a arquitetura colonial portuguesa no bairro da Cidade Velha, a inspiração neoclássica do Theatro da Paz e do Mercado de São Brás, a marca modernista do edifício Manoel Pinto, além dos diversos projetos em que se busca a harmonia entre as construções e o ambiente, como é o caso do Porto Futuro ou da Estação das Docas, que oferece uma janela para apreciar o pôr-do-sol na baia do Guajará.
Mas os encantos não param por aí e podem ser encontrados também nas áreas mais distantes do centro, como as ilhas, onde o verde da floresta e as águas barrentas oferecem refúgios da vida urbana. Fique atento e se permita encantar por cada cantinho!
Para provar
Sem dúvida um dos grandes atrativos de Belém vem da culinária, com sua riqueza e diversidade de sabores. Considerada uma porta de entrada da Amazônia e também uma vitrine da região, a cidade consegue explorar muito bem toda a potência da gastronomia e oferecer experiências que dão água na boca.
Um sinal da importância da comida típica para os belenenses é que pratos como a maniçoba, o vatapá e o tacacá podem ser facilmente encontrados nas barracas de comida de rua pela cidade. Aliás, os trailers com lanches e sanduiches variados vendidos nas ruas à noite são outra marca da cidade.
Não se pode esquecer também dos milhares de pontos de venda de açaí, que deixam bem clara a paixão dos paraenses pela fruta. No Mercado do Ver-o-Peso, por exemplo, a bebida é campeã de vendas ao lado do peixe frito ou qualquer acompanhamento salgado.
E há ainda os restaurantes de chefs renomados nacional e internacionalmente que tem ganhado fama pela originalidade na incorporação de ingredientes regionais. Essas e outras razões explicam o fato de Belém ter sido eleita pela Unesco como uma das cidades mais criativas da gastronomia no Brasil.
Para cheirar
Aliado à cultura alimentar tão forte, as sensações olfativas também têm lugar de destaque nas experiências proporcionadas por Belém. Os sabores da culinária regional são intensificados pelo cheiro sedutor de muitos desses pratos.
Um exemplo disso é que não dá para ficar indiferente ao cheiro de tucupi fervente que compõe o famoso tacacá. Da mesma forma a maniçoba , pela forma como a maniva levada ao fogo domina o ar.
Não se pode esquecer obviamente do império de todos os cheiros e sabores que é o Mercado do Ver-o-Peso. Por lá, o cupuaçu, o bacuri, o taperebá, a acerola e outras são reconhecidas à distância, assim como o famoso cheiro do Pará vendido nas barracas de artesanato ou até mesmo o odor do “pitiú” da Pedra do Peixe ajudam a compor um cenário rico e estimulante.
Pra ouvir
Um sentido que é estimulado constantemente em Belém é a audição. E as razões são diversas e estão ligadas principalmente a importância da musicalidade para a população. Os ritmos regionais como o brega e o tecnomelody marcam presença nas grandes festas de aparelhagem, mas também fazem parte do cotidiano da população.
Mas além da cultura musical, a vida em Belém tem outros traços de sonoridade. Como em qualquer metrópole o barulho do trânsito está por toda parte, mas ele fica em segundo plano quando se presta atenção ao canto dos periquitos que rondam o bairro de São Brás ou o campus da UFPA; pelo som dos motores dos “popopôs” que navegam pelos rios e igarapés; ou ainda pelo badalar do sino da Basílica de Nazaré que marca as horas tocando o hino “Vós Sois o Lírio Mimoso”. É uma verdadeira paisagem sonora repleta de tesouros!
Pra te tocar
A percepção do toque talvez seja a mais difícil de exemplificar, afinal uma cidade é antes de tudo um espaço e não um ser vivo. Apesar disso, as sensações são intensas e verdadeiras como quando se lida com alguém de carne e osso.
Aliás, intensidade é um bom termo para qualificar tudo que se vive em Belém. Uma vivência muito forte é relacionada ao calor. Os números dos termômetros parecem não expressar exatamente uma realidade quase sufocante. Seria a umidade ou estamos mais perto do Sol, como brincam os memes da internet?
Se intensidade é uma boa característica para definir Belém, talvez essa seja uma forma de expressão de afeto. Sabe aquelas pessoas que abraçam e conseguem expressar todo amor e carinho pelo toque? Belém é um pouco assim, calorosa e calorenta.
No outro lado está a experiência da chuva, sempre lembrada e até cantada em prosa e verso. E são chuvas em toda a dimensão do conceito. Não são chuviscos nem garoas, são torós. É água que banha, que inunda, que encharca, que traz vida e reforça os vínculos com um recurso essencial para a Amazônia.
Belém é assim: grandiosa, vaidosa, expansiva, gosta de encantar em tudo e, por isso encanta tanto. Feliz 408 anos!!