Um novo estudo internacional mostrou um quadro preocupante para a segurança hídrica global. A partir da análise dos níveis de cerca de 1,7 mil reservatórios subterrâneos de água em mais de 40 países, os pesquisadores identificaram uma queda acentuada e generalizada nas últimas décadas, impulsionada por práticas de irrigação insustentáveis, bem como pelas mudanças climáticas.
Em muitos casos, os níveis desabaram 50% desde 2000, com apenas 7% dos aquíferos registrando níveis parecidos ou superiores aos observados no começo do século.
“Uma das principais forças motrizes mais prováveis por trás do declínio rápido e acelerado das águas subterrâneas é a retirada excessiva de águas subterrâneas para a agricultura irrigada em climas secos”, disse Scott Jasechko, da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, um dos co-autores do artigo.
A análise foi publicada semana passada na revista Nature. Realizada por cientistas dos Estados Unidos, Europa e Índia, a pesquisa foi uma das primeiras a compilar dados de poços de monitoramento em todo o mundo, indo além de estudos anteriores, que utilizaram observações de satélite ou modelagem para estimar os níveis desses reservatórios.
Essa inovação metodológica permitiu uma análise mais apurada sobre a situação dos aquíferos, e o quadro apresentado não é bonito. O declínio dos níveis de água nos reservatórios subterrâneos é praticamente generalizado, mas particularmente mais grave em regiões com climas secos e muitas terras cultivadas para a agricultura.
Mais de 1/3 dos quase 1,7 mil aquíferos analisados pelo estudo registraram uma redução média de seu nível de 0,1 metro por ano entre 2000 e 2022, com 12% experimentando reduções superiores a 0,5 metro. Nas regiões mais afetadas, como o norte da China, o Irã e os Estados Unidos, a queda média foi ainda mais significativa, de 2 metros por ano.
“O declínio das águas subterrâneas tem consequências. Elas podem incluir o vazamento de riachos, o afundamentos de terras, a contaminação da água do mar pelo aquíferos costeiros e o ressecamento de poços”, destacou Scott Jasechko, professor da Universidade da Califórnia em Santa Barbara e principal autor do estudo, ao NY Times.