O cacau paraense é hoje um dos principais produtos da agricultura do estado. O fruto serve de matéria-prima para a produção de inúmeras variedades de chocolates, mas estudos demonstram que o benefício vai além da alimentação. Um projeto em desenvolvimento no Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá investiga o potencial uso no tratamento e prevenção de doenças como o diabetes e câncer.
A iniciativa é coordenada pela pesquisadora Giulia Lima, do Centro de Valorização de Compostos Bioativos da Amazônia (CVACBA) que lembra haver registros históricos que associam o fruto ao tratamento de diferentes doenças. A ciência mostra ainda que as amêndoas possuem antioxidantes, que são substâncias capazes de combater os radicais livres responsáveis por causar alterações no metabolismo.
No entanto, para saber quais amêndoas têm maior concentração desses compostos é preciso analisar as variedades de cacau e seus subprodutos, como o chocolate, manteigas, chás e nibs. Nesse estudo, amostras de 19 tipos de cacau estão em análise.
A ideia é selecionar as amêndoas com melhor composição e capacidade de manter os benefícios medicinais. Assim, seria possível elaborar produtos funcionais com menos perdas de nutrientes nas etapas de processamento.
“O cacau tem vários compostos bioativos diferentes com funções positivas para o organismo. Por isso é importante fazer essa qualificação. Por exemplo, se quisermos produzir um chocolate funcional que previne o envelhecimento precoce e o desenvolvimento de diversas doenças, incluindo câncer e doenças cardíacas, é possível escolher as amêndoas de cacau que possuem maior quantidade desses compostos para atender a necessidade dos consumidores que têm interesse nessas propriedades”, disse a pesquisadora à Agência Pará.
Giulia Lima considera que os nibs podem ser uma formulação mais benéfica devido ao menor nível de processamento. Outra hipótese é que os chocolates com teor de cacau entre 70% e 80% também possuam melhores propriedades nutritivas. Para ela, esse potencial deve ser ainda melhor aproveitado associado às características únicas do cacau paraense.
“Aqui no Pará nós temos o cacau de várzea, que cresce em áreas alagadas e não existe em nenhum outro lugar no mundo. Como o cacau é uma planta nativa, ele cresce perto de outras espécies, o que faz com que a amêndoa e o fruto tenham, por exemplo, notas de banana por crescer perto de uma bananeira. Ele tem propriedades aromáticas e nutricionais únicas”, pontua.
O CVACBA atua em áreas como bioprospecção de espécies e controle de qualidade de materiais de origem vegetal. O centro oferece serviços de atividade residual enzimática, análises de cacau, chocolate e derivados, açaí e outros produtos visando o desenvolvimento de tecnologias aplicadas às necessidades dos produtores e do mercado.
“Recebemos amêndoas do lote de um produtor e fazemos a avaliação para definir se a matéria-prima dele é segura para a produção de chocolate. Há critérios sobre isso. Minha pesquisa auxilia nessa resposta ao produtor, que irá saber qual é o melhor tipo de amêndoa para produzir o que ele planeja e o mercado demanda”, ressalta Giulia Lima.