Organizações da sociedade civil denunciaram ao Ministério Público Federal (MPF) e ao governo Lula a retomada da exploração ilegal de madeira no rio Mamuru, localizado entre os estados do Pará e do Amazonas, No local já foi feita a maior apreensão de madeira da história.
Segundo as entidades, a extração ocorre nas comunidades Igarapé Açu, Semeão, Ponta Alta e outras banhadas pelos rios Mamuru e Uaicurapá, no estado vizinho. Depois, o carregamento segue pelo Paraná do Ramos, braço do rio Amazonas, a caminho do Pará.
A atividade clandestina teria ganhado força com a cheia dos rios nesse período, quando é possível observar balsas circulando com grandes volumes de toras. No entanto, a denúncia reforça que as ações eram frequentes mesmo durante a forte estiagem do ano passado.
“Agora que a água começou a subir, eles entraram de maneira terrível, levantando maquinários novos e estão devastando terrivelmente, entrando na área do Amazonas, nas comunidades de Igarapé-Açu e Ponta Alta. Estão saindo diariamente duas ou três balsas”, contou ao jornal A Crítica o padre Manoel do Carmo, integrante da Comissão Pastoral da Terra do Baixo Amazonas.
A superintendência do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no Amazonas; o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio); Ministério Público Federal e Estadual entre outros órgãos foram alertados sobre o caso em janeiro, mas a exploração continua se intensificando. Um registro do dia 16 de fevereiro, por exemplo, mostra uma embarcação cheia de toras de madeira sendo empurrada por um barco menor.
“Os moradores dessas comunidades apelam para todo lado. É pelo Facebook, no WhatsApp, nos procuram. Está se intensificando demais a retirada de madeira e fizemos agora uma nova denúncia, desta vez no plantão do Ministério Público Federal, em 1º de fevereiro, e eles nos deram uma resposta dizendo que encaminharam para o procurador de Tefé, do Amazonas, que já existia ações do MPF no Pará e que veriam o que o MPF-AM poderia fazer”, relata o padre Manoel.
Em nota, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas) informou que “vem intensificando ações de combate ao desmatamento e extração ilegal de madeira na região citada”.
Por sua vez, o Ministério Público do Amazonas se limitou a dizer que “ainda está fazendo uma análise dos processos e procedimentos correlatos”. Já as superintendências da Polícia Federal no Pará e no Amazonas e o Ibama não responderam aos questionamentos da reportagem.
Maior apreensão de madeira ilegal
A região é alvo da cobiça dos devastadores há mais de uma década e ganhou mais atenção em 2021, quando a Polícia Federal realizou ali a maior a apreensão de madeira ilegal da história.
Na época, a operação Handroanthus reteve 226 mil metros cúbicos de toras – o suficiente para encher 19,6 mil caçambas de caminhão. O superintendente da PF na ocasião era Alexandre Saraiva, que acusou o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, de atrapalhar as investigações. Salles acabou sendo alvo de uma notícia-crime no Supremo Tribunal Federal (STF) e Saraiva foi afastado do cargo.