Por Fabrício Queiroz
Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da França, Emmanuel Macron, estiveram em Belém nesta terça-feira, 26, na primeira visita do mandatário francês ao País. Os destaques da passagem dos chefes de Estado pela capital paraense foram a realização de uma cerimônia de homenagem ao líder do povo Kayapó, Raoni Metuktire, e o lançamento de um acordo de cooperação bilateral que prevê investimentos de €$ 1 bilhão na região (equivalente a cerca de R$ 5 bilhões).
A iniciativa denominada “Apelo de Belém” foi apresentada por Macron, que destacou que o projeto é uma estratégia de apoio à realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) na capital paraense e de fomento ao desenvolvimento da região amazônica por meio da bioeconomia nos dois lados do rio Oiapoque, na fronteira entre o Brasil e a Guiana Francesa.
“Vamos investir €$ 1 bilhão cada país na biodiversidade e atividades econômicas compatíveis com o interesse dos povos indígenas, que permitam a eles ter perspectivas de desenvolvimento e conservar as nossas florestas”, destacou Macron.
Ainda segundo o presidente francês, o acordo de cooperação vai permitir que ambas as nações atuem e tomem decisões conjuntas em prol da região, visando estabelecer nessa área o “maior parque natural do mundo”. Ainda no anuncio, foi informado que as ações apoiadas serão sobretudo na área cientifica com a colaboração entre instituições dos dois países.
“O que temos que fazer é preservar, conhecer melhor, multiplicar a cooperação cientifica, construir estratégias de apoio a povos indígenas e juntos termos ações de investimento na bioeconomia”, disse Macron.
O presidente Lula se comprometeu em acabar com o desmatamento na Amazônia até 2030, e fez um chamamento de colaboração dos países desenvolvidos.
“E nós queremos convencer o mundo de que o mundo que já desmatou tem que contribuir, de forma muito importante, para que os países que ainda têm florestas mantenham as suas florestas em pé”.
Lula disse ainda que a COP em Belém será é importante para que o mundo ouça a Amazônia.
“Nós não queremos transformar a Amazônia num santuário da humanidade. O que nós queremos é compartilhar com o mundo a exploração e a pesquisa da nossa riqueza de biodiversidade, mas que os indígenas possam participar de tudo o que for usufruído do território”, disse.
Homenagem e cobrança
O primeiro encontro de Lula e Macron foi durante a tarde, na Estação das Docas, de onde embarcaram rumo à Ilha do Combu. O passeio de barco pelo rio Guamá foi acompanhado ainda pelas ministras do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva; dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara; pelo governador do Pará, Helder Barbalho, entre outras autoridades.
No ilha, eles conheceram de perto o empreendimento Filha do Combu, de Dona Nena, referência de bioeconomia no estado por cultivar cacau e produzir chocolate orgânico na floresta. Em seguida, foi realizada a condecoração do cacique Raoni e uma reunião, sem a presença da imprensa, com diversas lideranças indígenas, entre eles Davi Kopenawa Yanomami.
Durante a cerimônia, Emmabuel Macron condecorou Raoni como cavaleiro da Legião da Honra (Légion d’honneur, em francês). Essa é a mais alta condecoração concedida pela nação francesa e reconhece os méritos civis ou militares de uma personalidade. No caso de líder kayapó, o título destaca sua atuação em prol da defesa dos direitos dos povos originários e da Amazônia.
Em seu discurso, o cacique Raoni agradeceu a comenda e lembrou o apoio que já recebeu dos dois presidentes durante sua trajetória. Ainda que os reconheça como aliados, o indígena cobrou a ação de ambos.
“Lula, eu subi com você na rampa e quero pedir que você não aprove o projeto de construção da ferrovia Sinop-Miritituba, conhecida como Ferrogrão. Eu sempre defendi que não pode ter desmatamento, não posso aceitar garimpo e, por isso, quero pedir que vocês demarquem terras indígenas para as comunidades que ainda não tem terra”, pontuou Raoni, que ainda entregou a sentença do julgamento popular contra a Ferrogrão traduzida em francês para Emmanuel Macron.