Por Fabrício Queiroz
Três dos principais pontos turísticos de Belém serão ocupados por uma mostra fotográfica que põe em evidência a autonomia cultural e intelectual da Amazônia. A exposição denominada “Belém, Paris n’America: uma Amazônia Desconhecida” será uma das atrações da COP30, em 2025, e propõe uma contribuição para os debates sobre o futuro da agenda global de combate às mudanças climáticas a partir da produção artística.
A exposição coletiva contará com trabalhos de artistas como Luiz Braga, Elza Lima e Paula Sampaio, que poderão ser apreciados na Estação das Docas, no Mangal das Garças e no Parque Estadual do Utinga. A idealização é da curadora paraense Karina Jucá, que atua na Rouge Brésil, produtora dedicada a estabelecer relações culturais entre Brasil e a França.
Partindo de uma temática que remete ao período da belle époque e à influência da cultura europeia, em especial a francesa, no imaginário da região amazônica, a exposição promete trazer à tona a invisibilização da população e dos produtores de cultura da Amazônia e como isso repercute em práticas coloniais mesmo na atualidade.
“O projeto toca nessa questão de valorizar e dar eco para a cultura local como forma fundamental da preservação do ecossistema. A ideia de difundir que a Amazônia não tem habitantes conscientes e que, portanto, não tem dono ou gestão é uma ideologia que serve ao interesse das grandes corporações e da exploração”, explica Karina Jucá.
Para isso, a vertente artística escolhida foi a fotografia que, na avaliação dos responsáveis, apresenta uma cena mais consistente, longeva e reconhecida internacionalmente. Dessa forma, considera-se que a mostra será capaz de “disputar a narrativa” em discussões que abordam a complexidade da agenda ambiental e das relações entre homem e natureza.
“A questão da preservação do meio ambiente nas obras selecionadas não será necessariamente literal, mas transversal, a partir do enfoque da Ecologia Interssecional, de preservação da cultura local como fundamento da preservação do meio ambiente, da disputa da narrativa através do tema da exposição e também do olhar artístico e crítico sobre a região já presente no trabalho original dos fotógrafos e intelectuais participantes”, pontua a curadora.
A ideia é que a exposição “Belém, Paris n’America: uma Amazônia Desconhecida” não tenha caráter regional ou bairrista, mas possa abarcar influências e artistas de outros contextos culturais. Por isso o trabalho tem também busca promover o intercâmbio envolvendo o Pará, a França e o Caribe.
A mostra é viabilizada por uma parceria já estabelecida com o governo da ilha caribenha da Martinica. Além disso, o projeto prevê a realização de oficinas e masterclass com curadores Paulo Miyada, curador-chefe do Instituto Tomie Ohtake (SP) e com o museógrafo francês Adrien Gardère. Após a COP30, a exposição passará ainda por Paris, São Paulo e Fort de France, capital da Martinica.
“A equipe está muito animada com o desafio. Na prática, é uma exposição de grandes formatos e que se estende por três espaços em uma instalação incrível e surpreendente do museógrafo Vítor Blanco. Essa instalação vai dar o que falar”, adianta Karina Jucá.