Por Fabrício Queiroz
A extensão da maior florestal tropical do mundo torna a Amazônia uma região estratégica para o combate à crise climática. Embora tenha um enorme potencial para a absorção de carbono, as emissões oriundas do bioma são altas em virtude do desmatamento e de políticas que incentivam a degradação ambiental. O cenário é desolador, mas um estudo da iniciativa Amazônia 2030 mostra que é possível promover desenvolvimento para a região por meio da regeneração natural.
O trabalho intitulado “Carbono e o destino da Amazônia” chama atenção para o descompasso entre o impacto da devastação e a geração de riquezas. Enquanto o desmatamento da região é responsável por cerca de 50% das emissões de gases do efeito estufa do País e colocam a Amazônia à frente dos Estados Unidos, da União Europeia e da China em volume de emissões per capita, as atividades econômicas respondem por apenas 9% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.
A causa desse paradoxo seriam as políticas que incentivaram a destruição da floresta para abertura de pastos ou cultivo de grãos visando o mercado externo, ou seja, foi criado um cenário que tornou rentável a derrubada da Amazônia. Para reverter isso, os pesquisadores buscaram elaborar um modelo para saber as condições em que a preservação seria mais viável financeiramente.
Incentivo para controlar desmate
O modelo adotado na pesquisa indica que um preço mínimo de US$ 20 por tonelada de carbono capturado via regeneração natural serviria de incentivo para controlar o desmatamento. O valor é superior aos US$ 5,76 por tonelada de carbono calculados quando se toma como referência a receita gerada pela agropecuária, e o desmatamento acumulado até 2008, ano de criação do Fundo Amazônia que financia projetos para evitar esse tipo de ação.
“O preço de US$ 20 por tonelada de CO² capturado é uma referência base para negociação, uma vez que permissões de emissão na Europa estão sendo negociadas a US$ 90 por tonelada de CO². Com esse valor, seria mais vantajoso economicamente trocar a maior parte das áreas de pecuária em áreas destinadas ao restauro florestal via regeneração natural”, diz um trecho da publicação.
As simulações apresentadas no estudo demonstram ainda que caso a devastação siga o mesmo ritmo com abertura de mais pastagens, a Amazônia deve ter 30% do total de sua área desmatada em 20 anos atingindo assim o chamado ponto de não-retorno.
Por outro lado, a criação de mecanismos de pagamentos pelo carbono obtido com a restauração cria benefícios que ajudam a elevar a renda ao mesmo tempo que transforma a região de uma grande emissora em uma captadora de CO² em larga escala. Segundo a pesquisa, a regeneração natural seria capaz de absorver 16 gigatoneladas de carbono ao longo dos próximos 30 anos.
“A obtenção de um valor de US$ 20 por tonelada de CO² capturado na simulação aponta para o grande potencial do restauro florestal em países tropicais como parte relevante da carteira de soluções para a crise do clima”, pontua o artigo.
Milhões de hectares em regeneração
Aliado a isso, estima-se que a interrupção do ciclo do desmatamento levaria o Brasil a deixar de emitir 32 gigatoneladas de carbono em 30 anos, o que totalizaria 48 gigatoneladas de carbono no período. E o Brasil tem um grande potencial para aproveitar já que conta atualmente com 10 milhões de hectares em regeneração na Amazônia e outros 7,2 milhões de hectares em processo avançado há mais de seis anos.
Para os cientistas, esse é um modelo sustentável e que oferece uma solução de fomento à restauração para outras regiões com grandes extensões florestais.
“O restauro florestal em escala e os recursos associados podem catalisar uma transformação profunda na região, restaurando a integração das pessoas com a natureza, em um cenário de prosperidade socioeconômica”, conclui o estudo.