Por Fabrício Queiroz
Terceiro maior produtor de limão do País, o Pará pode avançar no ramo da citricultura com a adoção de estratégia de plantio pensada a partir da realidade da Amazônia. A recomendação de porta-enxertos sob copa para limão é o primeiro resultado de um projeto da Embrapa Amazônia Oriental que tem o objetivo de fortalecer a produção de citros na região com variedades mais resistentes a pragas e de baixo custo.
O trabalho avaliou o desempenho de sete variedades de porta-enxertos, que é a planta da qual se aproveita a raiz e a base do caule para garantir o desenvolvimento de outra planta. A análise demonstrou que porta-enxertos Sunki Tropical, BRS O S Passos e Citrandarin Indio são os mais adequados para plantios no Pará, pois apresentam os melhores índices de produtividade, estabilidade e adaptabilidade. A variedade Citrandarin Indio também é recomendada para todos os estados da região.
Responsável pela coordenação do projeto, o pesquisador Fábio de Lima Gurgel explica que a adoção de porta-enxertos é necessária para renovar a citricultura na região Norte, onde ainda é comum a produção de mudas direto no solo, o que facilita a disseminação de doenças como a gomose, uma das pragas que mais afetam a cultura dos citros.
O principal sintoma da gomose é o chamado depauperamento da planta, caracterizado pelos ramos e folhas secas que geram frutos desuniformes e com casca manchada. Em casos graves, a contaminação pode causar a morte da planta. Porém, a utilização dos porta-enxertos recomendados garante o plantio com mudas mais sadias e resistentes a fungos.
“São porta-enxertos que diminuem também o porte da planta, o que é um risco porque muitas vezes se precisa de escadas para colher o fruto em árvores que ultrapassam 5 metros. Agora temos plantas que variam de 2,5 a 3 metros, onde há um adensamento da copa. Ou seja, temos um pomar sadio, mais produtivo e permite esse bem-estar ao trabalhador que vai fazer a colheita. É um avanço tecnológico para a citricultura paraense”, acrescenta Fábio Gurgel.
Outra vantagem demonstrada pelo projeto é a tolerância das variedades selecionadas às alterações do clima, inclusive períodos de seca extrema como os observados recentemente na Amazônia..
“Nesses trabalhos, além de estudar a produção, altura da planta e sanidade, fazermos estudos de estresse hídrico. Quando a planta é muito fraca ao período de seca, as folhas se enrolam para perder menos água. Nesses experimentos, observarmos que agora as plantas conseguem reter mais água e apresentam uma tolerância maior”, ressalta o pesquisador.
Com a resistência comprovada a gomose, o projeto pretende investigar ainda a possibilidade dos porta-enxertos evitarem a proliferação do greening, que a principal praga que tem afetado as culturas de São Paulo e Minas Gerais, que lideram a produção de cítricos do país. O Pará ocupa a terceira colocação no ranking de produção de limão e sétimo de laranja.
“Quando se diversifica os porta-enxertos, é possível que parte dessa produção pode não ser atacada pelo greening, que tem reduzido drasticamente a produtividade do Sudeste. É uma oportunidade do Pará alcançar novos mercados”, afirma.
A novidade já está disponível em viveiros do Pará. A expectativa é que até o próximo ano sejam apresentadas as recomendações de porta-enxertos para laranjas, ampliando o alcance do projeto em benefício dos produtores de citros.