Alimentos, cosméticos, biocombustíveis e uma série de outros produtos consumidos em todo o mundo têm em sua composição o óleo de palma, óleo vegetal oriundo do dendê, cujo maior produtor brasileiro é o Pará. Com uma demanda global em alta, o estado se destaca não só por abastecer os mercados globais, mas também por incentivar a dendeicultura com respeito à biodiversidade por meio de sistemas agroflorestais (SAFs), como mostrou reportagem do Reset.
Em Moju, no nordeste paraense, um grupo de 17 famílias começou a plantar 227 hectares de dendê no ano passado adotando o modelo de agrofloresta, combinando o cultivo da palmeira com espécies como o cacau, a pimenta-do-reino, a mandioca e o açaí, que extraído de áreas próximas dos cursos d’água. Ou seja, não há monocultura, mas sim o respeito à diversidade típica das florestas.
Entre esses produtores está Raimundo Nonato Pompeu, morador da comunidade de Vila Jutai, que investiu na dendeicultura com o incentivo de um projeto de produção responsável organizado pela prefeitura do município e a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater). Os frutos extraídos a partir de 2026 já tem a compra assegurada pela Agropalma, o que garante uma expectativa de renda estável para as famílias participantes.
“Apesar de plantar e colher várias culturas, às vezes a gente não consegue vender porque não tem quem compre”, comenta o Raimundo Nonato animado com o futuro da agricultura na região: “É um investimento alto, mas dá segurança”.
Desde 2001 a Agropalma, que é a segunda maior produtora de palma orgânica do mundo, mantém um projeto semelhante na comunidade São Vicente, também em Moju, oferecendo mudas, treinamento e compromisso de adquirir a produção dos agricultores familiares.
“Na nossa região você não via uma bicicleta, um trabalhador de bota, era só sandália. As casas eram de madeira. Muita gente desistiu do projeto porque não acreditou. Os que acreditaram estão vivendo numa condição melhor, quebraram o ciclo. O produtor não vai mais cavar terra para extrair ouro, porque está plantando ouro em cima da terra”, afirma Leonel Oliveira de Souza, um dos primeiros envolvidos com a iniciativa.
Além do impacto na geração de renda e nas condições de vida dos moradores, o trabalho com SAFs fortalece uma estratégia que ajuda a recuperar áreas degradadas, contribui com a conservação da floresta e estimula práticas orgânicas, sem uso de herbicidas e pesticidas que agridem o meio ambiente.
“Toda agricultura tem impacto ambiental, mas quando se faz de maneira sustentável em área degradada, o impacto é positivo”, ressalta Marco Flavio Picucci, coordenador agrícola da Agropalma.