Espécies frutíferas típicas da Amazônia, como o cupuaçu e o bacuri, têm hoje um grande apelo comercial dentro e fora da região. O potencial do mercado é grande, mas produtores familiares ainda encontram dificuldades para ampliar a produção muito prejudicada pelo histórico de desmatamento. Uma das alternativas é a adoção de técnicas adequadas de manejo das árvores nativas.
Com esse objetivo em mente, a Associação de Mulheres Quilombolas Agroextrativistas do Ramal do Bacuri (Raízes do Bacuri), do município de Abaetetuba, deu início ao projeto Putirum – que remete à ideia de “mutirão” na língua tupi. A iniciativa conta com recursos da organização-não governamental Cáritas Brasileira e apoio do Governo do Estado e da Federação dos Órgãos para Assistência Social e Educação (Fase).
O uso de estratégias de manejo das árvores nativas deve ter impacto no aumento da colheita; no fortalecimento da subsistência das comunidades, já que o fruto é consumido na forma de sucos, doces, geleias e outros alimentos; bem como ajude a evitar o desmatamento na região, visto que a madeira do bacurizeiro é considerada nobre e costuma ser utilizada na construção de pequenas embarcações.
“Nossos antepassados focaram na madeira, e derrubaram e queimaram muito, o que enfraqueceu nossas terras. Mas hoje nossa visão é diferente: madeira a gente tira e só lucra uma vez; bacuri, não: a gente colhe, consome e comercializa das mais diferentes formas, todo ano; Fora isso, nossa intenção é preservação máxima da floresta”, contou à Agência Pará Marciane Pastana, de 36 anos, presidente da Associação de Remanescentes de Quilombos da Comunidade Ramal do Bacuri (Arquiba).
Entre as ações desenvolvidas pelo projeto Putirum estão a capacitação e orientação de cerca de 30 agricultoras em torno das estratégias que garantem maior produtividade dos bacurizais, como o espaçamento. De acordo com avaliação dos técnicos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater), o potencial de frutificação dos territórios Cataiandeua e Ramal do Bacuri, que ficam nas proximidades da rodovia PA-151, está abaixo de 1%.
Isso significa que a implementação das técnicas recomendadas deve favorecer o nascimento de mais frutos e, consequentemente, aumentar a renda das famílias devido à valorização da polpa do bacuri no mercado. Para se ter uma ideia, em alguns supermercados de Belém, o produto chega a custar até quatro vezes mais do que outras frutas.
“Quando espaçamos para 10 metros, e plantamos espécies de retorno rápido no caminho, tais quais abacaxi, o processo alavanca a produtividade”, explica o engenheiro agrônomo da Emater Flávio Ikeda.
A comercialização dos bacuris também deve ser aliada de outras atividades, como o plantio e o beneficiamento de mandioca. A proposta do projeto Putirum envolve a disseminação de duas estratégias produtivas desenvolvidas pela Embrapa: o Jardim de Reciclagem e o Plantio Direto Agroecológico, que são aplicados em duas unidades de demonstração montadas na região.