De 1º de janeiro a 24 de julho de 2024, a Amazônia registrou 20.221 focos de calor, segundo dados do sistema BDQueimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O número é um recorde dos últimos 19 anos e representa um aumento de 43,2% no comparativo com o mesmo período do ano passado, quando foram contabilizados 14.116 focos de calor.
A situação preocupa ainda mais nesse período em que a região entrou no chamado verão amazônico, quando diminui a ocorrência de chuvas, cai a umidade relativa do ar e aumenta a temperatura, fatores que servem de combustível para aumentar ainda mais o risco de incêndios e queimadas.
Somente neste mês de julho a Amazônia já teve 6.732 focos de calor, superando em três semanas o quantitativo do mesmo período de 2023, quando foram registrados s 5.772 focos. Para se ter uma ideia, dois dias dessa semana – dias 23 e 24 de julho – acumularam sozinhos 1.318 focos de calor. Nos dois anos anteriores, a marca foi de 671 e 399 focos, respectivamente.
O estado campeão em queimadas nesse mês é o Amazonas, com 2.241 registros. Em seguida está o Pará com 2.232 focos de incêndio do início do mês até o dia 25 de julho, o que representa uma alta de 10% em relação ao mesmo período do ano passado. Em terceiro aparece o Mato Grosso com 1.892 focos. No acumulado do ano, o aumento do fogo no Pará foi de 17,8%, com 4.136 ocorrências contabilizadas neste ano contra 3.509 em 2023.
“Considerando que ainda não chegamos ao fim de julho e que ainda temos mais três meses de verão amazônico, a situação do fogo e da seca é de extrema preocupação na Amazônia”, afirma o especialista em campanhas do Greenpeace Brasil, Rômulo Batista.
De acordo com o especialista, o aumento do fogo na Amazônia está diretamente relacionado à influência das mudanças climáticas e dos efeitos do El Niño que agravou a seca do último ano.
“Acabamos de passar pelo ano mais quente já registrado nos últimos 100 mil anos e em junho completamos 13 meses consecutivos de temperaturas recordes mensalmente. Quanto maior a temperatura, mais vulnerável a floresta e mais sujeita a queimadas ela está”, destaca Batista.
Além dos fatores climáticos e meteorológicos, a área ambiental sofre com a falta de um planejamento estratégico e sistemático de combate às queimadas, com ações de prevenção, manejo integrado e combate, além dos impactos da paralisação dos servidores do Ibama, que reivindicam melhorias salariais e reestruturação das carreiras.
“Outro problema histórico é que não há rigor por parte dos governos para punir os responsáveis pelos incêndios criminosos – não adianta apenas multar quem incendeia, é necessário fiscalizar se houve o pagamento da multa, o que não ocorre na maioria dos casos. Essa leniência permite que o crime seja cometido com mais frequência, pela certeza da impunidade. É preciso empenho integrado entre o governo federal e os governos estaduais na fiscalização das queimadas no bioma”, defende Rômulo Batista.