As mudanças climáticas trazem desafios para as diversas atividades econômicas. Entre elas, a agricultura e a pecuária estão entre as mais ameaçadas, por isso a necessidade de investimento em adaptação e mitigação nesses setores. As soluções, segundo especialistas ouvidos pelo Globo Rural, já existem e podem ser potencializadas com mais apoio nas áreas de pesquisa e assistência técnica.
Tecnologias já assimiladas em muitas propriedades rurais e boas práticas no campo, como a técnica do plantio direto, o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e a recuperação de pastagens degradadas são estratégias que se mostraram eficazes no aumento da produção e na redução de emissões de gases do efeito estufa. O problema é que essas soluções estão sendo “esquecidas na prateleira” para dar lugar à tecnologias mais caras, avalia Giampaolo Pellegrino, pesquisador e coordenador do Portfólio de Pesquisa em Mudanças Climáticas da Embrapa.
“Quando pensamos em inovação, já imaginamos que será caro, porque até o nosso modelo mental é muito mais baseado nessa agricultura tecnificada, mas há resultados sofisticados com técnicas simples e até baratas”, afirma.
Outra área importante nesse contexto é o melhoramento genético das plantas. Projetos nesse campo já são desenvolvidos no país e são capazes de gerar sementes mais resistentes ao estresse hídrico, a pragas e doenças sem utilizar produtos químicos. Na avaliação da professora de agronomia da Universidade de Brasília (UnB), Michelle Vilela, a grande dificuldade ainda é fazer essa tecnologia chegar ao produtor rural.
“Se eu diminuo a quantidade de produtos utilizados na nutrição no solo, vai ser bom para o bolso do agricultor e para o do consumidor também”, pontua a pesquisadora.
O investimento em novas tecnologias pode ser decisivo para incrementar a produção de alimentos nos próximos anos, aponta artigo do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). De acordo com a publicação, a produção de milho, soja, arroz e trigo deve sofrer uma baixa até 2050. Para reverter esse quadro, os cientistas defendem a necessidade de aportes adicionais em pesquisa tanto nos países mais desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento.
Na outra ponta desse processo, Giampaolo Pellegrino reforça que é preciso expandir as ações de assistência técnica para, assim, enfrentar as barreiras de acesso à informação e as resistências dos agricultores para adoção de novos modelos e práticas no campo.