Maior reserva natural do planeta, a Amazônia não é apenas vital para a subsistência das populações que vivem e dependem dela, mas também para o planeta, já que desempenha um papel essencial no enfrentamento da crise climática e da perda de biodiversidade.
Neste 5 de setembro, em que se celebra o Dia da Amazônia, é importante lembrar que se os índices de desmatamento da floresta caíram nos últimos meses, a pior seca das últimas quatro décadas e as queimadas têm feito a floresta sofrer. Foram 38.266 focos de queimadas, somente em agosto.
Mas há muitos caminhos para promover a proteção e a restauração do bioma e eles passam pelo fortalecimento das comunidades e saberes locais.
Um deles está acontecendo na Reserva Extrativista (Resex) Tapajós-Arapiuns, no oeste do Pará, onde quatro aldeias Tupinambá participam de uma proposta da metodologia de restauração florestal biocultural, elaborada e testada com sucesso em parceria com o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
O projeto analisou o efeito de incêndios frequentes em florestas de terra firme e a percepção das comunidades indígenas sobre a degradação a fim de propor uma metodologia de restauração com articulação de conhecimentos científicos e tradicionais.
Os resultados reforçam a compreensão dos efeitos em larga escala do fogo. Nas áreas estudadas, a biomassa acima do solo diminuiu 44% nas florestas queimadas uma vez e 71% nas afetadas duas vezes, com perdas de biodiversidade que variam de 37% a 51%.
“Florestas queimadas tornam-se mais vulneráveis a novos incêndios, criando uma espiral de degradação e vulnerabilidade social, com potenciais efeitos devastadores para territórios, comunidades e serviços ecossistêmicos oferecidos pela floresta”, explica Ima Célia Vieira, doutora em Ecologia
A pesquisadora coordenou no Museu Goeldio projeto “Recuperação de áreas degradadas por incêndios florestais em comunidades/aldeias indígenas no oeste do Pará”. O resultado alcançado virou capítulo no e-book “Avanços no conhecimento sobre monitoramento, ecologia e manejo integrado do fogo – o legado da chamada CNPq-PREVFOGO-Ibama 33/2018.
No projeto, os indígenas Tupinambá das aldeias Muratuba, Juarituba, Mirixituba e Jaca elaboraram um plano de restauração que busca transformar as áreas degradadas em florestas sociais. A abordagem é denominada biocultural, pois combina o manejo da regeneração natural com o enriquecimento da floresta com espécies úteis para as comunidades, fortalecendo a produção local e os múltiplos valores que a floresta oferece.
“A restauração biocultural tem o potencial de transformar florestas degradadas pelo fogo em florestas sociais de uso múltiplo, em diálogo com a ciência, e empoderar as organizações comunitárias para ampliar o seu protagonismo em projetos socioambientais na Amazônia”, afirma Ima Vieira, que atualmente coordena o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia NEXUS.
O INCT organizará uma rede de restauradores, que irá ampliar e diversificar a iniciativa realizada no Tapajós.
Onde pode ser adotada
O estudo “Os motores e impactos da degradação da floresta amazônica”, publicado na revista Science, aponta que a degradação ameaça 38% das florestas remanescentes na Amazônia. É nessas florestas que a restauração biocultural pode ser adotada, sobretudo em territórios coletivos, como é o caso de Tis, territórios quilombolas e Resex.
Segundo os estudos, de 2018 a 2022, mais da metade da degradação florestal na região ocorreu em apenas 25 municípios, entre eles: São Félix do Xingu, Altamira, Paragominas, Novo Progresso, Santarém e Santana do Araguaia, no Pará. Além disso, essa atenção às localidades pode ajudar na construção de respostas que levem em conta os impactos em aspectos ambientais e socioeconômicos do problema, como avalia Ima Vieira.
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