Por Fabrício Queiroz
O avanço das queimadas na Amazônia continua crítico. Depois de um mês de agosto com o maior número de incêndios desde 2010, em apenas dez dias de setembro o bioma contabiliza 19.248 focos, cerca de 72% de todos os registros do mesmo período do ano passado que totalizaram 26.452.
Além da degradação ambiental, a disseminação do fogo na região, que em sua maioria está relacionada às ações humanas, como o desmatamento, a exploração ilegal de madeira e a abertura de áreas de floresta para pastagens, deixa um rastro de prejuízos para a qualidade de vida da população, principalmente dos municípios do sudoeste e sudeste do estado.
A presença de fumaça no ar prejudica a saúde respiratória de muitas pessoas, explica o médico pneumologista Walter Netto. De acordo com o especialista, dependendo do grau de exposição, as reações podem ser de dores de cabeça transitórias, alergias de pele, irritação nos olhos e garganta, crises de rinites até complicações mais graves, que precisam de maior atenção e cuidados.
“Pacientes com vias aéreas inferiores mais sensíveis e fragilizadas, como portadores de asma e doença pulmonar obstrutiva crônica, podem vir a desencadear exacerbações das doenças, como com a apresentação de bronquite ou bronquiolite, o que a depender do grau de acometimento e da ausência de cuidados adequados, podem levar estes indivíduos a necessitarem de internações hospitalares, necessidade de oxigenoterapia para compensar queda do níveis de saturação e possibilidade de óbito”, explica.
Segundo a ministra da Saúde, Nísia Trindade, os reflexos são notados nos serviços de atendimento, onde é comum o aumento de registros de casos de doenças e síndromes respiratórias nessa época do ano. Com a escalada do número de incêndios, a tendência é que as unidades de saúde e hospitais sejam ainda mais demandados.
“Há um impacto forte (das queimadas) no sistema de saúde, nas unidades de saúde, uma maior procura”, disse a ministra durante participação em reunião do G20 no Rio de Janeiro.
Perigos para os trabalhadores rurais
Além de pessoas com comorbidades, as queimadas podem ser prejudiciais para quem tem contato mais direto com a fumaça, como é o caso de trabalhadores rurais que são parcela importante da população dos municípios mais afetados.
Neste ano, São Félix do Xingu, Altamira e Novo Progresso, cidades dedicadas à produção agropecuária figuram entre as 10 com mais queimadas em todo o país, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)..
“O trabalhador rural tende a estar mais próximo das queimadas e das inalações dos gases, como o monóxido de carbono, altamente prejudicial à saúde respiratória, além de partículas nocivas, como as PM 2,5, que correspondem ao material particulado abaixo de 2,5 micrômetros, sendo minúsculas e, por isso, com potencial de risco bem elevado, já que conseguem ainda maior penetração nas vias aéreas. Tal proximidade dos eventos torna esse grupo ainda mais vulnerável aos riscos”, afirma Walter Netto.
Na avaliação do pneumologista, a situação atual da Amazônia exige o reforço de medidas de combate às queimadas e ao desmatamento, assim como o incentivo à práticas sustentáveis de manejo do solo sem uso do fogo. Aliado a isso, a população, em especial dos grupos vulneráveis, precisa adotar medidas preventivas para diminuir os danos à saúde.
“É preciso reduzir, dentro do possível, o tempo de permanência em ambiente aberto e exposto a gases e partículas; o uso de máscaras; aumentar ingestão de água, buscando manter as membranas respiratórias úmidas e mais protegidas; e manter o tratamento adequado das doenças respiratórias crônicas, como com o uso adequado e assíduo dos dispositivos inalatórios prescritos pelo pneumologista”, orienta o médico.