A Amazônia passa em 2024 pela pior seca dos últimos 45 anos, ultrapassando os efeitos drásticos do ano passado. Essa é apenas uma face dos problemas já vivenciados na região em decorrência das mudanças climáticas, que são o foco principal dos debates e acordos firmados durante as conferências da Organização das Nações Unidas sobre o tema. A pouco mais de um ano para a COP30, a expectativa é que os países-membro assumam compromissos para enfrentar as principais causas do problema.
“O planeta precisa encontrar maneiras de se adaptar ao aumento de eventos climáticos extremos. A emergência climática está se intensificando rapidamente, e a COP30 será fundamental para pressionarmos por maiores ambições de reduções por todos os países e para acabar com a exploração e uso de combustíveis fósseis como o petróleo”, aponta o professor da Universidade de São Paulo e membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), Paulo Artaxo em entrevista ao portal Terra.
Além disso, questões como a proteção dos povos tradicionais também devem ser pautadas, no entanto tem um papel secundário, avalia Artaxo, destacando uma série de objetivos já apresentados em outras COPs, a exemplo dos mecanismos de adaptação ao novo clima e as formas de estruturar mecanismos financeiros que ajudem os países em desenvolvimento a enfrentar as transformações.
Desde o anúncio de que Belém sediará o evento em 2025 a atenção sobre a Amazônia aumentou e foi reforçada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que considera a conferência uma oportunidade para ampliar a discussão sobre o bioma e seus povos na própria região. Apesar da importância estratégica que a Amazônia tem para o equilíbrio climático e da necessidade de mais iniciativas de conservação, as ambições devem extrapolar as fronteiras da floresta.
“É um evento que vai trazer essa possibilidade, de se olhar para a floresta. Mas, apesar dessa oportunidade, é uma COP sobre clima, não é sobre a Amazônia e nem sobre o Brasil. São coisas bem diferentes”, explica Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.
Tradicionalmente, instituições científicas, organizações socioambientais e os governos dos diferentes países dominam os debates nas COPs, porém o setor empresarial está cada vez mais envolvido nos eventos e aproveitam para promover suas agendas de Governança Ambiental, Social e Corporativa (ESG).
Para Sérgio Xavier, coordenador executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima (FBMC), o envolvimento da iniciativa privada é necessário tanto pela demanda pela transição econômica e ecológica defendida pelo atual governo quanto por conta dos riscos a que os próprios negócios estão sujeitos diante do aumento de eventos extremos.
“Do jeito que estamos indo, muitos negócios vão ser destruídos ou pelos eventos extremos, ou pelo próprio mercado que não vai apoiar os produtos que estão contribuindo com o com a poluição, com a degradação”, afirma Sérgio Xavier.