Por Fabrício Queiroz
Agricultura com alto valor agregado e benefícios socioambientais são diferenciais que têm feito as amêndoas de cacau e os chocolates do Pará despontarem no mercado. Durante o Festival Chocolat Amazônia 2024 realizado em Belém, as principais estratégias de cultivo, beneficiamento e verticalização da cacauicultura paraense foram destaque na programação que chamou atenção para o protagonismo de pequenos produtores rurais.
Com a demanda por cacau e a produtividade das lavouras paraenses em alta, o estado conquistou uma posição de referência com a liderança do ranking nacional de produção do fruto, chegando a 149 mil toneladas no ano passado. O resultado reflete não só a extensão da área plantada que ultrapassa 220 mil hectares, de acordo com dados da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), mas também o impacto dos sistemas agroflorestais (SAFs) adotados no estado, que são mais resilientes em relação à seca.
Os SAFs combinam a cacauicultura com os cultivos de outras espécies de interesse econômico, a exemplo da mandioca ou do dendê, e o manejo sustentável das áreas de floresta. A estratégia garante a melhora e preservação de serviços ecossistêmicos, ao mesmo tempo em que fortalece a produção de alimentos e a geração de renda na agricultura familiar.
No município de Tomé-Açu, no nordeste paraense, a implementação do sistema na propriedade Casa Suzuki possibilitou uma série de benefícios, como o aumento da camada de matéria orgânica no solo, favorecendo tanto a fertilidade quanto a maior retenção de umidade para as plantas. Outras vantagens incluem o fortalecimento da atividade econômica com a comercialização dos produtos das diferentes espécies e a conservação de um microclima favorável ao desenvolvimento das plantas mesmo em períodos mais secos.
“O que a gente tem notado é que em comparação com outras áreas menos consorciadas, onde tem um sistema agroflorestal já consolidado o impacto da seca é menor. De fato, cai um pouco a produção, mas a gente mantém a produtividade das culturas”, comenta Ernesto Suzuki, engenheiro florestal e CEO do empreendimento familiar.
Já em Brasil Novo, na região da Transamazônica, a agricultora Jiovana Hoss também mantém os cultivos em SAF, o que lhe permitiu vislumbrar novas possibilidades de negócio com a produção de chocolates finos no processo tree-to-bar (da árvore à barra). A proposta preza pela qualidade do produto desde o plantio e todas as etapas de sua fabricação, garantindo ao consumidor um chocolate de origem orgânica fruto de práticas sustentáveis que valorizam o terroir amazônico.
“O sistema de agrofloresta traz qualidade de vida para as plantas, para a terra e, principalmente, para as pessoas”. afirma Jiovana Hoss, que participou de um dos painéis do Chocolat Amazônia para troca de troca de experiências entre os produtores de cacau, chocolatiers, empreendedores e outros atores dessa cadeia produtiva.
Para o idealizador do festival, o empresário Marco Lessa, esse tipo de evento contribui para que o potencial do setor seja melhor explorado. No cenário atual em que o mercado busca por chocolates mais autênticos, com menos adição de açúcar e em que as particularidades de sabor do cacau ganham mais importância, Lessa aponta que o estado tem muito a aproveitar com a aliança entre cacau e sustentabilidade.
““O cacau representa os três pilares da sustentabilidade, que é o econômico, o social e o ambiental. É a cultura agrícola que mais emprega no Brasil, são mais de 800 mil empregados, mais de 100 mil produtores tem um impacto econômico muito potente nos estados e preserva ambientalmente. Temos, portanto, uma cultura agrícola de forte apelo ambiental no momento em que se fala em preservação mais do que nunca”, ressalta o empresário.