Pelo terceiro mês consecutivo, a Amazônia registrou aumento da área de floresta degradada em razão das queimadas ou da retirada ilegal de madeira. De acordo com o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), a degradação no mês de agosto foi de 2.870 km² em todo o bioma. Desse total, 1.275 km² ou o equivalente a 45% ocorreu em território paraense.
Os números revelam uma escalada da destruição da floresta em apenas um ano. Em agosto de 2023, a degradação foi de 258 km², isso significa que o tamanho da área atingida cresceu 11 vezes no intervalo de 12 meses. Já no Pará a alta foi de 723%.
“Os dados ressaltam que as pressões sobre o bioma continuam a aumentar. As queimadas, que são um dos impulsionadores da degradação florestal, se tornam cada vez mais intensas e ocorrem em um ritmo alarmante. Isso reforça a necessidade urgente de ações focadas no combate e controle, além de equipar os órgãos ambientais de fiscalização para que consigam monitorar de forma ágil e em tempo real as regiões sob ameaça”, avalia a pesquisadora do Imazon Raissa Ferreira.
Segundo o estudo, a situação é ainda mais grave porque também põe em risco territórios indígenas, onde a devastação passou de 15 km² em agosto de 2023 para 972 km² neste ano, isto é, quase 65 vezes mais. Entre as TIs mais impactadas, quatro estão no Pará, incluindo o território Kayapó, que teve 384 km² degradados. Também estão ameaçados os territórios Munduruku, Menkragnoti e Xikrin do Cateté.
“Os danos ambientais nessas regiões são fortes indicadores de que os direitos dos povos originários estão sendo violados, o que pode resultar em conflitos. Além disso, essa degradação afeta diretamente o modo de vida dessas comunidades, ameaçando sua segurança, saúde e alimentação”, alerta Raissa Ferreira.
Para Carlos Souza Jr., coordenador do Programa de Monitoramento da Amazônia do Imazon, o cenário atual reflete a vulnerabilidade da região à emergência climática, em que mesmo áreas protegidas que atuam como barreiras estão mais inflamáveis devido à queda na umidade e ao aumento das temperaturas.
“Tivemos uma seca severa em 2023, que se repete em 2024. Inclusive, já foi possível detectar a perda de superfície de água em junho deste ano. No ano passado, essa perda foi registrada em setembro. O cenário requer uma mudança radical nas práticas de manejo baseadas em queimadas”, defende o pesquisador.