O Brasil vive um período crítico de aumento da degradação florestal provocada pelo fogo. O combate às chamas por si só é um desafio, mas os governos têm ainda dificuldades de identificar com rapidez as áreas atingidas. Um projeto batizado de Greenbug oferece uma solução para esse problema com a utilização de uma tecnologia de inteligência artificial capaz de perceber as perturbações na floresta a partir do som.
Atualmente, o monitoramento das queimadas é feito via satélite, e o processamento das imagens com os alertas pode demorar horas ou até dias. Sem a informação, os órgãos ambientais podem ter dificuldades ou nem mesmo localizar os responsáveis por iniciar uma grande queimada, um desafio ainda maior na Amazônia, onde há localidades de difícil acesso.
É esse processo que o Greenbug tenta agilizar. O projeto conta com estações de captação de som, alimentadas com energia solar e conectadas à internet em diferentes porções de floresta. Essas estações captam os sons e podem enviar os dados para apuração caso haja alguma suspeita, como o barulho nas folhas ou o estalar dos galhos
Para isso, o coordenador do projeto, Marcelo Vieira, está treinando uma inteligência artificial para reconhecer e diferenciar os diversos registros sonoros de uma mata. O recurso é capaz de identificar pássaros diferentes a partir dos seus cantos, por exemplo.
Da mesma forma, o sistema reconhece ruídos de motores com 100% de precisão. Já carros e caminhões que têm características parecidas ainda são classificados como veículos, no entanto helicópteros, que são muito utilizados em ações de garimpo ilegal, são descritos com facilidade.
“Criamos nossa base de dados, em campo, com o dispositivo armazenando amostras de para treinar o algoritmo. No ano passado, por exemplo, foram 34 mil registros de sons de fauna, trovão, aviões, motos, carros e caminhões”, explicou Marcelo Vieira à Folha de São Paulo.
O projeto é apoiado pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) e pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e busca captar novos parceiros e recursos para aprimorar a tecnologia e ampliar seu uso, que ainda está restrito a fazendas e empresas de segurança..
“Há uma dificuldade de monitorar áreas remotas, onde não é possível deixar um vigilante circulando 24 horas por dia, por exemplo”, diz Vieira, destacando a vantagem das estações para garantir a segurança de áreas florestais.