Transformar a forma como produzimos alimentos é essencial para enfrentar os desafios climáticos. Esse é o alerta deixado pelas discussões em torno do assunto na COP29, realizada em Baku, no Azerbaijão. A terça-feira, 19, foi promovido o Dia Mundial da Alimentação, Agricultura e Água pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO),na conferência do clima.
Para o diretor do Escritório de Mudanças Climáticas, Biodiversidade e Meio Ambiente da FAO, Kaveh Zahedi, os sistemas agroalimentares não são importantes apenas porque sustentam os meios de subsistência de mais de um bilhão de pessoas, mas porque têm o potencial de contribuir e promover as metas do Acordo de Paris, pois são responsáveis por 30% das emissões de gases de efeito estufa (GEE).
Apesar da importância, um estudo divulgado na COP29 revelou que o financiamento global para transformar a forma como produzimos alimentos está muito longe do necessário. De acordo com o relatório, seria necessário US$ 1,1 trilhão por ano em investimentos em sistemas alimentares, até 2030, mas os países propõem contribuir com apenas US$ 201,5 bilhões anuais,
Enquanto isso, a levação da temperatura global já causa impacto na produção agrícola, segundo o diretor executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), André Guimarães.
“A cada grau centígrado de aumento de temperatura, a soja perde entre 5% e 6% da produtividade; o milho perde em torno de 8% de produtividade”, afirmou Guimarães.
Por outro lado, lembrou o especialista, estudos mostram que propriedades rurais com percentual maior de vegetação nativa possuem maior produtividade.
“Isso já dá uma pista para a gente de que as florestas são um fator de produção, e não um obstáculo. Daqui para o futuro, nós temos que encontrar uma maneira de compatibilizar a conservação ambiental com a produção. Esses tipos de uso do solo não são concorrentes”.
Para Alberto Broch, do Fórum Rural Mundial (WRF), não se pode falar em combater os efeitos climáticos e garantir a segurança aimentar sem lembrar do papel importantíssimo dos agricultores familiares, embora sejam os mais afetados pelas mudanças climáticas e a receberem financiamento insuficiente para se adaptarem.
Broch pediu que se desse aos agricultores familiares uma voz nas negociações climáticas e acesso a financiamento de longo prazo. Ele disse que o WRF, que representa mais de 50 milhões de agricultores em 94 países, está “comprometido em apoiar este caminho para a agricultura sustentável e a ação climática. Podem contar conosco”.
Guimarães também ressaltou a necessidade de redesenhar incentivos fiscais e demais subsídios para enfrentar as mudanças do clima.
“No Brasil, por exemplo, temos o Plano Safra, que só agora começa a ter alguma exigência de cumprimento do Código Florestal. Até pouco tempo atrás, se um fazendeiro estivesse fora da lei, a taxa de juros para ele seria igual à do produtor que cumpria as regras. É preciso reposicionar os incentivos para mais intensificação e, consequentemente, liberação de áreas para outros tipos de cultivo ou até mesmo para conservação e recuperação de florestas”, completou.
Lançamento
A FAO lançou na terça-feira uma nova plataforma, a Iniciativa Climática Baku Harmoniya para Agricultores.
A Iniciativa Harmoniya servirá como um agregador, reunindo iniciativas, coalizões, redes e parcerias díspares para capacitar agricultores, vilas e comunidades rurais. Atualmente, há mais de 90 iniciativas, redes e parcerias globais ou regionais, criando uma necessidade clara de coerência, alinhamento e compartilhamento de lições aprendidas para gerar maior impacto.